“Levai as cargas uns dos outros,
e assim cumprireis a lei de Cristo.” (Gl. 6.2)
Já não é de hoje que a igreja tornou-se um ambiente quase corporativo. Nos últimos anos tentou-se até quebrar um pouco essa imagem trocando a palavra “departamento” por “ministério”. Contudo, a igreja contemporânea tem mais patentes do que muitas empresas por aí. Obviamente essa hierarquização faz-se necessária diante do crescimento das denominações. As contribuições financeiras aumentam a cada dia, novos membros chegam e precisam ser inseridos no corpo, cada faixa etária precisa de um acompanhamento específico e assim, proliferam-se a departamentalização e a necessidade de novos líderes. Porém, vale ressaltar: a igreja continua sendo, primordialmente, lugar de voluntariedade, por isso, não temos na maioria das igrejas um processo seletivo. As pessoas vão sendo indicadas conforme seu empenho na obra ou (pasme!) por indicação do Espírito Santo – que, graças a Deus, ainda inspira pastores e fala em muitas denominações.
Com o esfriamento do amor, a falta de comunhão e o egocentrismo que não cabe na nossa fé, tornou-se comum o que chamo de espírito de Caim. Gente que não suporta ver seu irmão em seu momento de adoração, principalmente quando há sinais claros de que o Senhor está recebendo essa oferta. Sabe-se que hoje em dia esses sinais são muito mais sutis, mas a paz que excede todo entendimento, a graça derramada e o espírito de comunhão que invade a casa quando estamos adorando, creio, são evidências de que o Espírito de Deus ali está e recebe nossa oferta como cheiro suave.
Diante disso, é óbvia a constatação: uma das maiores causas de dissensões e discórdias na igreja evangélica é a disputa por cargos. E a maior ironia nessa história é que o prêmio para quem chega lá, em geral, não se trata de dinheiro ou ascensão social, mas apenas daquela sensação de poder! O camarada não vai ganhar um tostão por isso, não vai estar nas colunas sociais e nem vai trocar de carro, mas terá a diabólica sensação de estar por cima, de ser chamado de chefe, de ter subalternos… Com isso, o ego vai sendo alimentado a cada dia num ciclo vicioso e demoníaco.
Jesus soube posicionar-se muito bem quando disse: “Vocês me chamam de ‘Mestre’ e ‘Senhor’, e com razão, pois eu o sou!” (Jo. 13.13) – aqui não se trata de arrogância ou prepotência, apenas de um posicionamento adequado quanto à sua parte no grupo, tanto é que em seguida Ele lava os pés dos discípulos em evidente sinal de humildade. Mas tenho uma ótima notícia para o povo de Deus que me lê: não se preocupe, mesmo que o Senhor decida não tomar as rédeas confiando essa decisão aos pastores constituídos por Ele mesmo, a vida ensina! Mais cedo ou mais tarde cumpre-se a palavra de Deus que diz: “Aquele que julga estar firme, cuide-se para que não caia!” (I Co. 10.12).
Que todo esse ativismo na casa do Senhor não venha nos cegar fazendo-nos acreditar que essa é a “obra de Deus” enquanto existem viúvas solitárias, órfãos desamparados e gente humilde precisando de pão. Que toda a humildade de Cristo, que nasceu numa manjedoura, calejou os dedos com farpas e não teve lugar definitivo onde reclinar a cabeça, norteie nosso espírito de liderança, fazendo de nós, líderes segundo o coração de Deus.
No amor do Pai,
L. Rogério