Reflexões

O código zero

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Cresci numa igreja histórica, daquelas em que os “chamados” vão sendo passados de pai pra filho. Aliás, meu pai foi o guitarrista da única banda da igreja e minha mãe, professora de EBD. Como era de se esperar num contexto assim, herdei os dois cargos.

Além de músico, meu pai era secretário da igreja. Lembro-me que, quando criança, ajudava-o a separar as fichas cadastrais dos membros. Nelas, além dos dados pessoais, havia um campo de observação com a “ficha corrida” da pessoa e alguns códigos. Cada código, sem qualquer discrição, denunciava o pecado cometido e o motivo pelo qual a pessoa estava suspensa da comunhão.

Curiosamente, embora a lista com os tais códigos fosse imensa (de roubo a homicídio), aparentemente, apenas dois eram usados: fornicação e adultério. Eu não sabia exatamente o que eram esses “delitos”, mas cresci com a ideia de que, se a pessoa não aparecia na ceia, ou era o código 1 ou era o 2 daquela lista.

É curioso perceber que essa herança histórica nos levou a elencar os pecados de tal forma que a fofoca, a malandragem e a agressão contra mulheres, física ou emocional, continuam “descodificadas”. O agradar a Deus e estar em comunhão foi malandramente resumido a não transar antes do casamento e a não pegar a mulher do próximo. Mas… haveria algo mais grave do que isto?

Certo dia, fui convidado a um culto doméstico onde absolutamente ninguém me conhecia. Nesse dia, o Senhor usou uma senhora que me disse assim: “Eis que te fiz professor, apascenta aqueles que eu te der”. Essa frase não apenas fez sentido pra mim, como teve um peso imenso de responsabilidade.

Sim, há algo mais grave do que qualquer deslize na sua jornada moral: dizer não ao chamado de Deus!

Quando Jonas foge do Eterno, Deus movimenta céus e mar (literalmente) para que o profeta cumpra seu chamado. Ainda assim, Jonas se frustra quando Deus dá uma segunda chance àquele povo.

Talvez, e só talvez, uma vida moralmente impecável não tenha muito valor se ela está toda enrolada com algas de afazeres e responsabilidades, navegando sem destino dentro de uma baleia enjoada e fingindo que esse texto não é com ela.

Que o Eterno lhe dê hoje uma segunda chance de obedecer ao seu chamado.

Publicado por Roger da Escola

L. Rogério (o “Roger da Escola”) é pai da Bia, fundador da Escola de Adoração, formado em Sistemas, Marketing, Comunicação, Teologia e faz MBA em Mktg pela USP. Fã do Cheescake Factory e de The Big Bang Theory.

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