Era cada vez mais evidente que aquela multidão estava seguindo Jesus apenas pelos milagres que Ele podia fazer. Em breve, o próprio Mestre iria confrontá-los com essa verdade. Mas por ora, parece-me que outro incômodo crescia em alguém.
Pouco se sabe sobre Filipe, o apóstolo, e seria precipitado afirmar qualquer coisa sobre seu temperamento, mas ouso arriscar um palpite: Filipe era prático e realista. O texto do evangelho de João vai dizer que Jesus vê uma grande multidão se aproximando e pergunta ao discípulo: “Filipe, onde vamos comprar pão para esse povo comer?” (Jo. 6.5)
Sejamos honestos aqui. Você está seguindo um cara que se diz Deus. Tudo o que Ele diz é misterioso e fora da sua realidade humana. Esta seria a primeira multiplicação de pães, portanto, não havia nenhuma dica do que iria acontecer ali. A resposta de Filipe é irônica, mas coerente: “Nove mil reais não seriam suficientes para comprar um pão pra cada um!”
Mas a praticidade de Filipe seria escancarada um pouco mais à frente. Jesus está no meio de uma pregação linda sobre as mansões celestiais, e imagino a ansiedade fervendo dentro de Filipe. Tomé abre caminho: “Senhor, a gente não sabe nem pra onde você vai, como vamos saber o caminho?”Enquanto Jesus, calmamente, está apresentando-lhes uma das maiores revelações bíblicas, creio que Filipe explode: “Senhor, chega! Vamos ser práticos aqui??? É muito simples: mostra-nos o Pai e isso nos basta!” (Jo. 14.8)
O questionamento de Filipe nos parece ousado e desrespeitoso. Embora estas não tenham sido exatamente suas palavras (uso de liberdade poética e interpretação pessoal aqui), confesso: essas seriam as minhas palavras.
Em algumas situações da vida, tudo o que eu queria era uma resposta clara e objetiva do Senhor. Não queria parábola, não queria sonho, não queria anjo, queria apenas um simples: “Foi por isso que permiti…”
E nesse desespero de alma, quando quero interromper qualquer discurso do Mestre, encontro resposta à minha aflição num pequeno adendo feito por João quanto à pergunta de Jesus a Filipe: “[Jesus] Fez essa pergunta apenas para pô-lo à prova, pois já tinha em mente o que ia fazer”(Jo. 6.6)
Eu sei que pregações, conselhos, testemunhos e até orações, muitas vezes, acabam não sendo suficientes pra nós. Sei que sua vontade (como a minha) é de gritar e dizer: “Senhor, me explica! Você é Mestre”.Contudo, cabe a nós crer que Ele está provando-nos e já sabe exatamente o que vai fazer.
Que tenhamos a humildade e o temor necessários para absorver esta verdade: Ele não tem que nos explicar nada do que faz. Até porque… quem disse que entenderíamos?
No amor do Pai,
Roger