Se há algo que me incomoda profundamente é pensarem de mim o que não sou. E engana-se quem acha que se trate de um desabafo. Na verdade, tenho medo de pensarem que o dom que Deus me deu de escrever e falar me torne um cara seguro e de fé inabalável. E explico meu medo: se você achar isso de mim, estarei fechando uma porta aberta pelo Eterno para nos unir. Portanto, quero falar de nós. Sim, de nós, os que duvidam e se decepcionam com Deus.
Você já percebeu que há uma avalanche de mensagens triunfalistas, e pouquíssimas de derrota? Pudera! Quem em sã consciência admite fraqueza num universo gospel movido a curtidas e compartilhamentos? Mas o bom de perder algumas coisas vitais na vida é que você não tem mais medo de perder as que valem pouco ou quase nada. Por isso, esse é um texto pra você, que como eu, se vê muitas vezes duvidando até mesmo da existência de Deus!
Eu estava tão angustiado e deprimido, que minha oração naquela madrugada foi: “Senhor, me perdoe! Pode parecer loucura, mas eu acho que estou realmente falando sozinho. Eu não acredito mais em você!” – disse sem rodeios.
Os dias eram sombrios e devastadores. Pela manhã, corri para a casa de um casal de amigos. Eu estava tão fora de mim que olhava para a varanda daquele apartamento com uma sensação estranha, quase suicida. Minha amiga me disse, tempos depois, que tinha certeza que eu iria fazer uma bobagem naquele dia. Oramos, e decidi mudar a oração:
“Senhor, é estranho falar com alguém que eu não acredito mais, contudo, eu vou te dar uma chance de me provar o contrário [como somos ridículos, não é?]. Me mostra que o Senhor é real, e eu terei a minha dúvida sanada.”
Durante 1 ano, busquei ao Senhor de todas as maneiras que aprendi. Do jejum aos círculos de oração, fiz de tudo. Porém, nada! Nenhuma palavra, nenhum sonho, nenhuma revelação, nada! Me afundei na angústia e na depressão ainda mais. Contudo, fiz algo que acredito ter vindo do próprio Deus: eu decidi continuar buscando, mesmo sem sentir. Entendi que minhas emoções estavam completamente fora do eixo, por isso, elas não eram nem um pouco confiáveis.
Quase um ano depois, eu estava no quarto, sozinho, orando. Terminei a oração e cantei o Salmo 18, numa versão do Asaph Borba. Quando terminei, ouvi quase que audivelmente: “Agora, silêncio!”. Assustei, mas tinha convicção do que sentira. Silenciei e me mantive de joelhos. Tentei apurar o que ouvia, pois estava quase certo de que pela primeira vez na vida eu realmente ouviria a voz de Deus, mas… nada!
De repente, senti uma vontade [meio involuntária] de me curvar e pus meu rosto no chão. Então, comecei a sentir medo. Não era exatamente temor, era quase uma vergonha. Comecei a ficar ofegante e, já não me contendo de joelhos, me lancei ao chão. Eu tremia da cabeça aos pés e meu coração estava disparado. Não sabia exatamente o que estava acontecendo e comecei a pedir perdão pelos meus pecados. Me sentia mísero, indigno, sujo. E, de repente, acredite você ou não, eu percebi quando o Senhor Jesus entrou no quarto.
Não sei quanto tempo exatamente isso durou, só sei de uma coisa, essa foi a maior experiência espiritual que eu já tive na vida. Mas antes que você seja tentado a acreditar numa “imagem espiritual” minha, deixa eu te dizer, mesmo depois disso, muitas vezes, eu ainda duvidei do Senhor.
E sabe porque compartilhei algo tão íntimo com você? Para que hoje você soubesse que Jesus não desiste dos Tomés! Ele não diz (como muitos): “Ah, você não tem fé, Deus nunca vai te ajudar desse jeito”. Ele simplesmente volta pra você e diz:
“Eu sei que você tem dificuldade de crer. Por isso, voltei. Por você! Veja! Veja as minhas mãos! Veja o buraco que os cravos fizeram. Não acredita ainda? Então, toca, mas de forma alguma eu vou te perder”
Creia! Mesmo não entendendo, mesmo não sentindo, creia! Ele vai chegar. Acredite, nós somos exatamente iguais. E se Ele me visitou, também vai te visitar.
No amor do Pai,
Roger