Em tempos de hipergraça, chamar Jesus de papaizinho tornou-se algo corriqueiro em algumas canções ou ministrações da galera do Movimento Worship. Evidente que, diante do esfriar do amor e do distanciamento cada vez maior da humanidade em relação ao seu Criador, é muito melhor ter um cristão que precisa ser ensinado quanto à teologia bíblica, do que ter alguém completamente alheio à graça. Contudo, é nosso papel alertar a comunidade cristã quanto à essa elasticidade forçada da graça.
Nós sabemos que a palavra abbá (אב) – a sílaba tônica é a segunda no original – é usada até hoje em Israel, principalmente pelas crianças. Ela seria um balbuciar infantil tal qual o nosso “papá”. Oras, ao fazer uso de uma palavra que denota tanta intimidade com o Pai (numa relação com a divindade totalmente anacrônica para Sua época), Jesus abre caminho para que tenhamos esse mesmo acesso íntimo ao nosso Deus. Porém, chamar seu genitor de papai, denota no mínimo uma relação profunda, não apenas de amor e carinho, mas consequentemente de respeito e submissão.
O grande problema dessa geração modinha, é que chama-se Jesus de papaizinho num drama meloso que beira a sensualidade, com vozes infantilizadas e frases que mais parecem juras de amor entre adolescentes com seus hormônios explodindo. Oras, você pode até achar que é a minha mente que está maldando a poesia, mas eu te explico porque não vejo coerência nessa melação.
Quando Jesus realiza o milagre da grande pesca, Pedro reconhece que está diante do próprio Deus e exclama: “Senhor, afaste-se de mim!”. A reação de Pedro nos dá talvez uma noção do que pode ter passado por sua mente. Parece-me que ele se dá conta de que aquele homem, que há pouco estava dentro do seu barco, tão próximo, tão simples, tão humano, era Deus disfarçado de gente.
Veja, o problema não é chamar Deus de Tu, de Você, de Eterno ou de Papai, o problema é não temê-Lo. Nós sabemos que esse temor não é o medo aterrorizante diante do perigo, mas ele é sim o medo diante de uma glória e santidade que podem simplesmente nos consumir com Sua presença. Não fosse o Seu amor, nós seríamos, sim, consumidos. Perder essa noção é ignorar inocentemente o fato de que Ele é Deus e nós somos meros bonecos de barro que emprestamos seu fôlego de vida por um tempo.
Chame-o de Abbá, mas reverencie-O em toda Sua glória, não com caras e bocas, mas temendo-O de todo coração, e em santidade, mesmo depois que as luzes se apagam e a fumaça se esvai.
No amor do Pai,
Roger