Já está mais do que provado que vivemos a era das aparências. As redes sociais tornaram-se a grande vitrine da vida, não da vida real, claro, mas uma janela virtual para um mundo perfeito, em que todo mundo é rico, feliz, pleno, sábio, motivado e, claro, bonito. Meu sonho era me mudar para o Instagram, afinal, o que não falta lá é beleza e comida… ah, muita comida!
Porém, mesmo que essa vida tão perfeitinha e atraente não seja real, vê-se que ela tem se tornado uma obsessão coletiva, ou seja, eu sei que ela não é real para mim, mas posso quase garantir que ela o é para o outro – não é à toa que o número de academias cresceu vertiginosamente e temos a sensação de que falta cliente para tanto coach. Todos estão na corrida pela vida perfeita que veem em seus feeds.
Diante desse quadro, alegar que não se pode ir à academia porque depois do trabalho ainda se tem um tanque cheio de roupas pra lavar, que serão estendidas e no outro dia terão que ser passadas é visto como pura preguiça, desculpa ou mimimi dos que vivem suas vidas reais. É tarefa quase insana tentar explicar que sorteamos boletos todo mês para ver qual será o felizardo escolhido para ser pago naquele mês àqueles que encontraram a fórmula betina milagrosa do enriquecimento.
Diante desse sufocamento social pelo sucesso a qualquer custo e pela busca de aceitação através de um corpo esteticamente compatível com o que dita essa sociedade, me parece que o resultado se traduz no aumento assustador dos problemas emocionais como depressão, frustração, isolamento ou frustração.
Diante desse contexto, tem sido cada vez mais nítido o sucesso de pregadores que conseguiram alinhar a estética, o empreendedorismo, as palavras motivacionais e uma vida triunfante do ponto de vista financeiro. Em alguns casos, é praticamente impossível distinguir algumas pregações das palestras motivacionais em voga. Me parece que essa obsessão coletiva pelo sucesso tem invadido a mente dos crentes, que ao mesmo tempo é realimentada por essas pregações que garantem o sucesso de seus ouvintes pelo simples fato de Jesus amá-los desesperadamente e, por isso, estar pronto a realizar todos os seus desejos e anseios por felicidade.
Conceitos tão explícitos como abnegação, tolerância, renúncia e altruísmo têm sido enxugados aos moldes fitness dessa geração. Nada foi deletado, mas tudo foi reeditado na base da ciência exata chamada “achologia”, que traz em seu texto áureo a máxima de seus estudiosos: “Ah, não é bem assim…”
Crendo fielmente que nem todo joelho se dobrou ao crossfit do relativismo, clamo ao Eterno que nos faça voz profética em meio a esse deserto da futilidade, de selfies perfeitas e corações vazios, de frases profundas e mentes rasas, de sorrisos encantadores e almas solitárias.
Enfim, não se deixe enganar: “Deus não quer mais sacrifícios” – dizem os pregadores do Evangelho Instagram, porém, seus filtros os impedem de perceber que o Eterno falava do sacrifício de animais. Sacrifique seus desejos. Sacrifique sua carne. Sacrifique seu bem-estar em prol do Reino. Ainda existe uma cruz, e ela é real. Tome a sua.
No amor do Pai,
Roger