Sim, quando percebi, eu estava num teatro, juntamente com centenas de crianças ensandecidas, cantando em alto e bom som: “Não falamos do Bruno, não, não, não…”. E se você leu cantando, você entende bem porque a canção foi a primeira da Disney a permanecer por mais de uma semana no topo da Billboard. Aliás, aqui em casa, a playlist de Encanto não se resume ao álbum em português, tem inglês, espanhol, italiano…
Contudo, embora Bruno seja profeta do óbvio e suas revelações tracem curiosos paralelos à fé cristã, foi a solitária canção de Mirabel que me fez refletir no clamor dessa geração. O drama da protagonista se dá por ser a única da família a não receber um dom. Sua nítida necessidade da aprovação de sua abuela lhe traz dor e constrangimento, afinal não são os dons de criatividade e poder que atraem os olhares? Por isso, em seu canto, Mirabel desabafa: “Não levanto montes, nunca fiz nenhuma flor”.
A dor de Mirabel deveria ser a nossa dor! Em um passado não muito distante, era comum ver-se jovens e adolescentes reunidos clamando por seu dom. Tal como Mirabel, talvez não soubéssemos exatamente o porquê daquele clamor. Porque era bonito? Porque era o certo? Porque todo mundo queria? Mesmo sem saber, estávamos no caminho certo, pois era o desejo do Eterno para nós, nas palavras de Paulo: “…busquem com dedicação os melhores dons”.
Hoje, esta geração se questiona com lamento ao ouvir nossas histórias: “Por que não vemos mais milagres e maravilhas?”. Com o coração partido, usamos de eufemismo pra dizer que existem outras formas de milagre. Mas a verdade é que dom não serve para quem o recebe, e isso pode frustrar. “Cada um exerça o dom que recebeu para servir aos outros!”, disse Pedro. Por isso, para que dons sejam derramados em abundância é preciso que aqueles que clamam, o façam por amor ao próximo.
Uma geração que só pensa em si jamais cumprirá o propósito dos dons – edificar a igreja.
Quando terminamos de assistir Encanto pela primeira vez, minha pequena me disse: “Pai, sabe qual é o dom da Mirabel? Ela tem o dom de unir a sua família!”. Que a dor da Mirabel seja a nossa dor! Que possamos clamar pelos dons, afinal… só um milagre pode nos ajudar.
