Eu já estava praticamente dormindo quando ouvi o pedido de socorro da minha pequena: “Papai, cici!”. Corri pro quarto dela e fiz o ritual do papai exausto – abraçado a ela no troninho, esperei o tal do cici, que não veio. Alarme falso! Levei pro quarto, dei um beijo e boa noite. Menos de 5 minutos, outro pedido de socorro. A cena se repete, alarme falso! Na terceira vez, percebendo que não se tratava de nenhum desconforto, decidi perguntar: “Meu amor, você está chamando o papai toda hora porque está com medo de dormir sozinha?”. Um pequeno feixe de luz iluminava a boquinha dela, que lentamente foi fazendo aquele beiço de choro. Não contive a lágrima. Abracei-a com todo carinho e, revigorado por tanta fofura, esperei até que ela dormisse.
A gente vive numa sociedade que exaustivamente valoriza as pessoas que se posicionam como fortes e resilientes – o que não deixa de ser algo nobre. Acontece que, injustamente, o vulnerável é tachado como frágil, fraco e problemático. Esses dois extremos, inseridos numa geração refém da perfeição de seus filtros, tornam socialmente inaceitáveis aqueles que se mostram reais como deveriam ser. Mas talvez, aquele que tem a coragem de expor sua vulnerabilidade seja, de todos, o mais corajoso.
O curioso é que a sociedade que convencionou que “homem não chora” é a mesma que sufoca mulheres quando elas alcançam cargos de liderança e têm uma postura mais firme. Assim, se o homem vacila, é frouxo, e se a mulher não se impõe, é vista como fraca para o cargo e que, ali, “deveria ser um homem”.
Bem, não dá pra mudar a cabeça de uma sociedade da noite pro dia, mas enquanto isso não acontece, podemos fazer uma boa limonada pra não azedar de vez. Como? Valorize a exposição emocional! Se alguém, diante de um cenário de tantos estereótipos e julgamentos, se abre pra você e lhe confessa toda sua vulnerabilidade, saiba que ele está depositando em você a mais alta confiança. Essa pode ser a maior declaração de amor desse tempo.
Talvez, e só talvez, o verdadeiro amor seja admirar alguém não apenas por sua força e resiliência, mas também pela coragem de ser quem se é, e não o que os outros querem que se seja. É preciso coragem para ser imperfeito.