Tarra sol. Dona Graça suarra em bicas. Exausta, sentou-se à beira do açude, que tarra mais seco que o bom dia de Seu Lunga.
– Arre égua… que sede – se lastima agoniada, Dona Graça.
De repente, a salvação! Lá vem Santinha, rebolando mais que quenga na pracinha, com um balde réio na cabeça, cheim d’água. A fogosa ia passano toda despeitada:
– Oxi, Dona Graça!? Tais fazendo o quê, aqui por essas banda?
– Ô, minha fia… tentei ataiar por um caminhozinho ali pela mata, e cabei aqui. Mas olhe… me dê água, me dê! – disse logo sem arrudeio, Dona Graça.
– Ah, Dona Graça… a senhora vai me desculpar, mas essa água aqui é pro Tonho. E a senhora sabe como é que é Tonho, se não fizer do jeitinho que ele diz, eu levo logo é uma pêia.
– Valha, Santinha! Que é que custa dividir um pouquinho d’água? Apois! Se tu soubesse com quem tarra falano, ia pedir água era pra mim, visse?
– Oxente! E a senhora tem lá de onde tirar água? Açude réi tá mais seco que sibito baleado!
– Pois eu faço é uma aposta contigo como eu tenho é mêimundo de água aqui comigo. – disse Dona Graça, convicta de sua resenha.
– Êita, que Dona Graça tá toda estrambólica hoje… – mangou Santinha já se indo embora. – Me dê esse mêimundo d’água que eu aproveito e já encho o açude que tá sequim – emendou Santinha com uma gargalhada.
– Chame lá seu “marido”, Santinha, que eu explico melhor pra ele. – gritou Dona Graça arremedando.
– Ô, Dona Graça, a senhora tá achando que eu sou suas pariceira da igreja, é? – voltou Santinha já toda ouriçada – A senhora tá cansada de saber que Tonho não é meu marido. Por que tá me azucrinano?
– Se aveche não, Santinha! Não tô falano dessa água aí, não, estrupício! Tô falano é da Água da Vida!
– “Água da vida!?” Que diabeisso, Dona Graça?
– Santinha, a Água da Vida é uma água que não cessa nunca, mulher! Cê bebe, bebe, bebe e bebe… e ela continua jorrando de dentro do seu bucho feito chuvarada!
– Êita, que Dona Graça bateu mesmo a cachulêta… Dona Graça, vá pra casa, vá… que a senhora tá é abilolada!
– Santinha, já ouviste falar de Gezui?
Finalmente, Santinha sentou-se e ouviu Dona Graça falar por horas sobre aquela tal água benta que jorrava sem parar. E ao pôr do sol, Santinha reconheceu que ela era sedenta daquela água, e desde então, nunca mais Santinha voltou pra buscar água. Dizem até que ela abriu seu próprio poço.
Como diria o poeta: “Num sei, só sei que foi assim…”