Nasci com disritmia cerebral. O termo nem é mais usado, e me parece que pode ou não estar associado à epilepsia. Fato é que o médico disse à minha mãe que eu poderia fazer uma cirurgia somente aos 12 anos e que deveria tomar Gardenal até lá. Minha mãe me conta que “foi pro joelho”, e até que se prove o contrário, meu cérebro funciona muito bem (rs). Então, tudo ia muito bem, quando aos 12 ou 13 anos, após chegar de uma excursão do colégio, comecei a sentir fortes cãibras e muita indisposição. Após alguns dias, com sintomas semelhantes aos da dengue e com os olhos amarelados, minha mãe levou-me ao médico. A princípio, fui diagnosticado com hepatite, mas dias depois, logo após o resultado dos exames, a coisa era grave e estava avançada: leptospirose.
Minha mãe saiu comigo do consultório que ficava próximo à nossa igreja e foi direto para lá. Ao chegarmos, o coral ensaiava o Salmo 142: “Com a minha voz clamo ao Senhor. Com a minha voz ao Senhor suplico. Diante dEle a queixar-me, eu estou. Diante dEle exponho a minha aflição”. Lembro-me que poucas luzes iluminavam onde eles estavam ensaiando, e minha mãe jogou-se ao chão em lágrimas. A enfermidade estava realmente avançada. Lembro-me que (desculpe, mas tenho que mencionar) eu já estava urinando sangue. Nesse dia, a médica entrou em contato com a Sônia Bezerra, nossa amiga de longa data, e pediu que ela fosse consolar minha mãe, pois era quase certo que eu não viveria após aquele fim de semana. Quando a Sônia, com muito jeito, explicou isso à minha mãe, ela correu pro meu quarto. Senti quando o colchão baixou e ela balbuciava algo que eu não podia entender, só percebi as lágrimas.
Então, mandaram chamar a Irmã Maria José Marcilli, a irmã do coque, a dirigente do Círculo de Oração, sabe? Lembro-me como se fosse hoje, a irmã Maria deu um pisão na sala que estremeceu a casa: “Espírito da morte, saia agora em nome de JESUS!!!”. Dias depois, e eu estava de alta e completamente curado.
As faculdades de teologia tentam humanizar mais a hermenêutica a fim de que ela seja dinâmica, tenha vida, seja compreendida também pela ótica humana em seu contexto, mas há um limite onde todo nosso estudo e nossa retórica termina para dar lugar à fé. Eu não sei porque, nem como, e não sei te dizer se isso está na Bíblia, mas creio firmemente que quando uma mãe bate seu joelho no chão, os Céus se abrem.
Foi assim com a Siro-Fenícia, que ignorou todo o protocolo, e mesmo diante do descaso de Jesus, mesmo diante de uma palavra dura e desprezível, só pensava em sua amada filha se debatendo endemoninhada. Foi assim com Ana, que mesmo sendo chamada de bêbada, não deixou de clamar ao Senhor por seu bebê que ainda nem existia. E foi assim com a Irmã Rufina, que mesmo ouvindo a sentença de morte contra minha vida, não desistiu de clamar.
Quando o Senhor quis expressar a profundidade do Seu amor, fez uma pergunta retórica: “Pode uma mãe esquecer-se do filho que amamenta?”. Se o próprio Deus usa desse amor para ilustrar o Seu, é porque ele é profundo demais para ser esquecido. Assim, essa Palavra é para todas as mamães que neste dia clamam por seus bebês, que, para elas, nunca vão crescer. Lembre-se: mesmo que você esteja como Agar, que no auge de seu desespero correu para não ver seu bebê morrer de sede, que o Senhor também mostre a você um poço de água em meio ao deserto, para que você e seu filho (ou filhos) tenham vida e a tenham em abundância no Senhor.
Feliz dia das mães!
Com carinho,
Roger