Vivemos num país de muitos dialetos. É comum, por exemplo, um paulista perder o fio da meada numa conversa com um nordestino. Cresci ouvindo minha tia dizer: “Arre-ema!”. Demorei entender o que meu pai queria o dia em que ele me pediu uma liguinha. Já minha mãe cansou de dizer durante as refeições que eu era esgalamido. E quando a gente não se aquietava num lugar diziam que tínhamos um frivião e que o que valia era a Lei do Chico de Brito (esse era famoso lá pelo Ceará). Mas de exemplos é bom parar por aqui, pois não quero mangar de ninguém, vai que tem algum familiar pastoreando meu blog. Mas tão peculiar quanto o dialeto, é a forma como se fala no nordeste do país. O que para muitos de nós, paulistas, parece ser uma grosseria, na verdade não passa de uma resposta simples e direta.
Eu era ainda um menino quando visitei pela primeira vez a sede de nossa igreja com meu pai. Acostumado apenas com a galeria de minha igreja, contemplei espantado as três que formavam aquele grande templo, e logo perguntei: “Pai, isso não cai, não!?” – ao que ele me respondeu com toda delicadeza paraibana: “Isso não é feito de cuspe, não, ‘mininu’!”. Mas filho de nordestino não cresce com trauma, não… cresce cada vez mais macho! Mesmo porque, não se tratava de grosseria – esse é apenas o jeitão nordestino de ser!
Contudo, independente de nossa formação, a Bíblia nos fala de amabilidade como fruto do Espírito (Gl. 5.22). E não há como expressar amabilidade a não ser por gestos e palavras. Jesus deixou claro sua delicadeza quando disse: “Eis que estou à porta e bato!” (Ap. 3.20). O próprio Deus mostrou-se gentil ao chamar o menino Samuel sem assustá-lo (I Sm. 3.4), imitando a voz rouca e bem conhecida do sacerdote Eli.
É triste saber que muitos cristãos e obreiros (principalmente), ainda não entenderam o que é amabilidade. Pior que isso, vivem uma vida ranzinza e rabugenta acreditando, mesmo assim, ter os frutos do Espírito, quando na verdade a Bíblia nunca falou-nos de frutos, mas sim de fruto! Essa singularidade deixa claro que, ou se tem o TODO, ou não se tem nada. A amabilidade é consequência natural de todo aquele que foi alcançado pelo amor do Pai. Uma espiritualidade que não se desdobra no bom trato, não passa de língua estranha.
Que em nome de Jesus sejamos amáveis uns com os outros no trato, no falar, na hospitalidade, na formação de novos discípulos, na tolerância aos mais fracos e principalmente no respeito para com as diferenças. Que o toque carinhoso do Pai seja imitado por nós, seus filhos, no dia-a-dia e na Casa do Senhor.
Naquele que nos criou com carinho,
Roger