Em tempos remotos, quando um solteiro “comia o lanchinho antes do recreio”, das duas, uma: ou ele confessava porque sabia que metade da igreja faria uso do “dom da fermentação” e o caso chegaria ao pastor, ou seria obrigado por conta do “atraso” mesmo. Evidente que sempre houve [e sempre haverá] casos de uma confissão sincera e de um arrependimento genuíno. Com o advento das megaigrejas em que as congregações mais parecem shoppings do que comunidades de fé, os crentes tornaram-se meio independentes, e a maioria não vê a necessidade de se confessar um pecado, seja ao pastor (ou usando a orientação verdadeiramente bíblica), seja confessando uns aos outros – que aliás, é o que dá o verdadeiro sentido ao texto “a oração feita por um justo pode muito em seus efeitos” (Tg. 5.16), bem diferente do triunfalismo gospel da atualidade.
Mas o fato é que sem a confissão, adotamos um modelo bem mais prático para “resolver o problema”. Parece que de uma hora pra outra alguns iluminados tiveram uma epifania e descobriram o significado do favor imerecido. Funciona mais ou menos assim: o indivíduo peca, sente-se mal, ora pedindo perdão e segue a vida normalmente porque ninguém é de ferro, afinal, a graça é pra isso, não é?
Não! Não é. E é preciso esclarecer alguns pontos a fim de que ninguém se engane. Por incrível que pareça, pecamos no varejo e confessamos no atacado. Pecamos em diversos itens, colocamos tudo numa cesta, e vamos ao caixa celestial com um único cheque: “Senhor, me perdoa porque a carne é fraca. Amém!”
Em nome de Jesus, não confunda. Sentir-se mal por um pecado pode na verdade ser o sintoma de algo muito mais profundo e pernicioso do que você imagina. Não que “sentir-se mal” seja errado. Acontece que APENAS sentir-se mal não configura arrependimento – isso chama-se “remorso”. E o remorso é como uma dorzinha de cabeça comparado à tristeza profunda que o câncer do pecado traz àqueles que foram chamados e escolhidos por Deus.
A Bíblia diz que “a tristeza segundo Deus produz um arrependimento que leva à salvação e não remorso, mas a tristeza segundo o mundo produz morte” (2 Co. 7.9). Por isso, esse simples “sentir-se mal”, na verdade, é fruto de uma mente cauterizada e nos leva a um círculo vicioso que acaba por criar uma capa anestésica com a qual não sentimos mais a corrosão que o pecado vai causando por dentro, tal qual sapo na água que ferve aos poucos e, de repente, morre sem perceber o porquê.
Minha oração nesta madrugada é que eu jamais deixe de sentir o estrago que o pecado faz em minha vida. Que eu não chegue ao ponto de comparar meu pecado com o do outro, e assim, me iluda com a ideia de que ele não é tão grave assim. E que eu tenha a sensibilidade do Espírito Santo para sentir a tristeza que vem do próprio Deus, abandone meus caminhos maus e me converta dia após dia.
Se você deseja o mesmo, te convido a também fazer esta oração.
No amor do Pai,
Roger
“Que diremos pois? Permaneceremos no pecado, para que a graça abunde? De modo nenhum. Nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?” – Rm. 6.1-2