Desde criança sempre tentei justificar meus posicionamentos com relação a tudo na vida. Certa vez levei uma surra do meu pai (a única que me lembro) por não ter ido à escola. A justificativa: eu não tinha uma borracha. Desde então, percebi que precisava ser mais convincente em minhas justificativas (rs). Porém, tenho procurado cada vez mais evitar as justificativas daquilo que creio e confesso – ou como diria meu pai: “ficar polemizando as coisas”. Não preciso provar que Deus é Deus – Ele não precisa da minha ajuda pra isso. Não preciso provar que Deus me abençoa por causa do Seu santo nome – e não do meu. Na verdade, cansei da tentativa inútil de explicar que Deus não é Papai Noel e que não me abençoa por minhas atitudes! Nada que eu fizer O fará me amar mais, e nada do que eu deixar de fazer o fará me amar menos.
Porém, com a graça de Deus, jamais deixarei de pregar aquilo que creio e de refutar esse evangelho cínico da “egolatria” (II Tm. 3.2). Pregações e músicas que deixam bem claro a centralidade do homem na adoração. Sutilidades do capitalismo disfarçado de fé. Satisfação pessoal, sucesso e fama são os objetivos do tal evangelho da prosperidade, que quando não está às claras vem camuflado na “busca da sua vitória”. Frases como “quem tem promessa não morre” ilustram bem essa ala triunfalista de crentes. Além disso, destoam completamente do livro de Hebreus que deixa bem claro que toda aquela Galeria da Fé “morreu sem receber o que tinha sido prometido” (Hb. 11.13). Também é comum ouvir-se que “Deus mata pra te dar vitória” daqueles que se alistaram nesse Evangelho Talibã. E mais, esse bando de crentes mimados, que ao menor sinal da negativa de Deus ameaçam colocá-Lo na parede, rasgar cartão de membro, rasgar a Bíblia… que rasguem as suas roupas em sinal de humilhação e lamento por tanta bobagem que tem sido lançada ao povo de Deus, que muitas vezes é composto de gente tão humilde, quase incapaz de perceber tais ciladas.
Se está em jogo a valorização do ser humano, ninguém melhor do que Jesus para nos ensinar o quanto nosso Deus nos ama. A morte de Cristo na cruz é suficiente para me dizer o quanto Ele valoriza o ser humano, mas nada, nem ninguém pode distorcer o evangelho e colocar “você no palco”. Aliás, como Zaqueu, quero descer o mais rápido que eu puder só para estar com Jesus, afinal, Zaqueu não conseguiu chamar Sua atenção – o Mestre simplesmente parou, olhou e disse: “Desce, Zaqueu!”. Por isso é que não consigo esquecer o texto do meu amigo Franko Júnior quando ele cita o Salmo 50.21 “…Pensavas que eu era teu igual?”
Não, meu amigo… nosso lugar não é no palco! Nosso lugar é mesmo na plateia, com todos aqueles que creem que Jesus é o Astro. A Bíblia diz que “dEle, por Ele e para Ele são todas as coisas. A Ele seja a glória para sempre! Amém” (Rm. 11.36). Aliás, imaginar alguém no palco dizendo: “Aí, tá vendo, seus ‘troxas’, quando eu estava na prova ninguém quis me ajudar, né? Agora vocês vão ter que aplaudir a minha vitória!” – não me parece algo que glorifique ao Senhor. Penso que quando o Senhor Jesus me abençoa, o propósito principal de Sua ação é trazer glória ao Seu nome – não ao meu.
“Adorai o Rei do Universo! Terra e Céus cantai o Seu louvor” diz-nos o hino 124 da Harpa Cristã. Parece-me que esse compositor entendeu a essência do louvor e adoração. Ministros de adoração, líderes de louvor, dirigentes de culto, crentes… vamos centralizar a Cristo em nossa adoração. Não permita que o homem seja colocado no palco, precisamos tirá-lo de lá. No palco, o crente que acredita que Deus está no Céu à sua disposição, pronto a atender seus desejos e caprichos, tem realmente a ilusão de que “é o cara”, que arrebenta, que vence, que destrói todos os seus inimigos (mesmo que esses sejam, na verdade, seus irmãos na fé). É por isso que ele tem “cara de vencedor” (e alguém me mostre, pelo amor, como é isso???).
Chega! Chega de “massagens do ego”. Sim, eu quero que as pessoas vejam Jesus brilhando em mim, mas, como disse Jesus, para que “assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus” (Mt. 5.16) e não para que alguém se sinta diminuido ou arrependido de não ter me ajudado quando precisei. A vingança pertence ao Senhor (Dt. 32.35). Creio que quando sou abençoado, todos ao meu redor também são alcançados. Não quero ser a atração da festa. Não quero estar no palco, pois creio que Deus “escolheu o que para o mundo é insignificante… a fim de que ninguém se vanglorie perante Ele” (I Co. 1.28,29).
Sim, tenho que admitir: minha vitória tem sabor. Tem sabor amargo. Tem sabor de fel. Minha vitória tem sabor de sangue! Sangue carmesim derramado na cruz pra me dar vitória sobre o pecado. Sangue que purificou-me de minhas iniquidades e trouxe-me das “trevas para a Sua maravilhosa luz” (I Pe. 2.9), onde posso ver todas as armadilhas do diabo, que quer fazer-me acreditar que mereço estar no palco.
Jesus, a Ti a honra, a glória e o louvor para todo sempre. Amém.
No amor do Pai,
Roger