João era primo de Jesus. Os dois cresceram num ambiente cheio de profecias, revelações, milagres, teofanias e tudo mais. A história de infância deles era tão mística, que Lucas diz que não apenas todos os vizinhos, mas toda a região montanhosa da Judeia falava sobre ela. Fico imaginando, então, como eram os almoços em família desses dois. Ah, quanta história eles deviam ouvir… E se você cresceu numa família nordestina como eu, então, deve saber bem como é isso — nossos pais são cheios de histórias.
Imagine Zacarias contando como emudeceu, literalmente, logo após um anjo dizer a ele que seria pai depois de velhinho! Deve ter sido hilário ouvir sua esposa Isabel contando como o marido teve que escrever numa tabuinha o nome do filho porque não podia falar. Imagine, então, Maria, mãe de Jesus, contando sobre a vez em que foi visitar sua prima, e mal chegou à casa, João pulou dentro da barriga da Isa! Ao que a prima Isa completa: “Verdade! Eu entrei no mistério na hora e comecei a profetizar!”
O mais interessante é que essas histórias não se restringiram à infância dos meninos, mas os seguiram por toda a vida. Talvez, por isso, João tenha se tornado um profeta tão ousado. Sua mensagem era dura e não se intimidava nem mesmo perante as autoridades. “Raça de víboras!” era provavelmente um dos adjetivos mais sutis que o profeta usava. Seu ministério não apenas anunciava a vinda do Senhor Jesus, mas também pregava a justiça e o arrependimento. O auge de sua vida ministerial se dá, quando seu primo vem a ele para ser batizado. Mais uma vez, os dois testemunham um sinal divino, o próprio Espírito Santo desce sobre Jesus em forma de pomba. E para eliminar qualquer sombra de dúvida que porventura houvesse a respeito da divindade de Jesus, uma voz do Céu ecoa: “Tu és o meu Filho amado; em ti me agrado”.
Puxa, é impossível duvidar das coisas de Deus crescendo em um ambiente assim, não é!? Não, não é! E por uma simples razão: talvez Jesus tenha frustrado as expectativas de João.
Creio que a Bíblia ainda é o livro mais lido do mundo, dentre tantas razões, por não esconder a fragilidade de seus heróis. Sim, João foi um grande herói. Jesus chega ao ponto de dizer que ninguém era maior do que João — um pedaço simples de cana, mas que não se quebrava com a força do vento. Mas como todo grande herói, João agora estava preso, sozinho, vendo a morte bater à sua porta… tão angustiado que manda perguntar ao primo: “Você é mesmo o Messias?” Talvez, João esperasse que Jesus não apenas o libertasse, mas libertasse a todo Israel como um grande Rei e General, como havia sido profetizado. Talvez, e só talvez, João não esperasse um Jesus tão “misturado”, comendo e bebendo com pecadores — “Feliz é aquele que não se escandaliza por minha causa”, conclui Jesus enviando Seu recado ao primo na prisão.
O Espírito de Deus colocou essa mensagem em meu coração para lhe perguntar: “Por que você está tão triste e abatido? Não era isso que você esperava, não é? Não era dessa forma que você queria, eu sei… Mas ouça o que o Espírito lhe diz hoje: tire o foco do problema! Olhe ao seu redor, muitos cegos estão vendo o que estou fazendo em sua vida, muitos deficientes estão se levantando por sua causa, muitos estão abandonando o pecado que lhes corroía como lepra através do seu testemunho… Até mesmo alguns que já estavam mortos estão voltando-se para Deus!” (Lc. 7.22)
Acredite, eu lhe entendo! Se somos separados e nos santificamos, “lá vai o santarrão”. Se nos misturamos e somos divertidos, “mas você não é crente???”. Como disse Jesus, eles são como crianças chatas na praça que não sabem brincar! (Lc. 7.32). Por isso, ouça-me mais uma vez: levante-se, respire fundo e limpe essa poeira dos pés — a jornada ainda é longa. É tudo que eu posso lhe dizer por ora.
No amor do Pai,
Roger