Sabe, faz tempo que eu estou pra te falar algo, mas não sabia exatamente como. Pensei em algumas palavras bonitas, mas sabe como é… Quando a gente pensa demais pra falar, acaba não dizendo. Então, lá vai! Sabe essa sua “atitude positiva” de sempre ver o lado bom da vida? Ela está me fazendo mal. Eu sei, eu sei… é estranho. Não faz muito sentido, mas me deixa explicar melhor. Sabe quando você chega toda espalhafatosa dizendo que a gente tem é que curtir a vida, que temos que pensar em coisas boas e que ficar falando dos problemas não vai adiantar nada? Pois é… Não me leva a mal, por favor! Somos amigas há tanto tempo e eu realmente gosto de você, mas acho que, na verdade, você é assim porque o máximo que consegue enxergar da vida é o seu próprio umbigo. Calma! Deixa pra ficar zangada depois porque ainda tem mais…
Eu penso que você faz isso porque nunca teve um filho internado em uma UTI. Aliás, acho que você nem faz ideia do que é um trauma emocional… Será que algum dia você já perdeu o sono por não se sentir amada ou por não ter ideia de como seria o amanhã?
Dramática!? Não, não… Essa é a triste realidade de milhares de pessoas espalhadas por todo lugar. No trabalho, na faculdade, na igreja… E eu sei que a sua intenção é boa, de verdade! A questão é que a vida pede mais que boas intenções. E pensar em coisas boas não “atrai coisas boas” como você imagina. Essa “energia negativa” que você diz que atrai coisas ruins pode ser, na realidade, o cansaço de alguém que enxerga a vida exatamente como ela pode ser, cruel e passageira.
E posso falar mais… sabe porque você está em choque? Porque você vive há tanto tempo se anestesiando dessa realidade, que quando acabam seus anestésicos, você é quem entra em pânico. Ouvir a verdade te desmonta, eu sei. Você prefere beber pra sentir uma liberdade fictícia, prefere curtir pra fugir de suas responsabilidades. Mas acredite, mais cedo ou mais tarde, a conta vem. Você diz tanto que “aqui se faz, aqui se paga” e não se dá conta de tudo o que está sendo acumulado pra você resolver amanhã.
Amiga, uma vez me disseram que nós devíamos chorar com os que choram. À época, achei isso tão brega. Hoje, depois de algumas batalhas perdidas, percebi o quanto é importante um abraço, uma ligação de “bom dia”, um ombro amigo… até mesmo um sorriso. Ah, eu trocaria toda essa sua atitude positiva pelo silêncio de um olhar. E eu não estou poetizando nada, quem dera eu pudesse fazer poesia das minhas dores, ia vender muitos livros. É que eu estou tão cheia de pessoas vazias, que não suporto mais as frases de efeito, os conselhos de quem “acha demais” e não me encontra. É muito fácil falar da minha dor… mas tudo o que eu queria era alguém com quem dividi-la.
Enfim, eu precisava te dizer isso porque gosto de você! A pessoa que me disse que devíamos chorar com os que choram também disse que ia orar por mim. E olha, pode ser coisa da minha cabeça, mas depois que ela me disse isso, eu senti uma paz… E todo dia ela me pergunta se eu estou melhor. Ah, céus… como isso me faz bem! E ela me chamou para ir à igreja dela. Sinceramente? Tô pensando em ir qualquer domingo desses. Você não quer vir comigo?