Nós estávamos naquela correria, produzindo a Escola de Adoração, um congresso anual de 2 meses que liderei por quase 10 anos. Meu amigo Joey estava vindo ao Brasil falar na Escola e, embora nosso voluntariado já fosse bem estruturado, muita coisa dependia de mim, por isso, minha cabeça estava a mil. E foi nesse contexto que recebi um convite inusitado: “Olá, você ministraria para um pequeno grupo de jovens aqui na Austrália?”. E foi assim que, no outono de 2014, eu finalmente consegui desacelerar e me peguei hipnotizado por um coala mastigando uma folha de eucalipto no meio de um zoológico em Sydney.
A igreja em Sydney foi uma das mais amáveis em que já ministrei. As famílias “brigavam” com o pastor para que jantássemos com elas. Assim, se em uma noite eu estava ministrando no culto, na outra, estávamos comendo camarões do tamanho de um frango na casa de amigos muito queridos. Mas os irmãos foram além e nos deram ingressos para as principais atrações da cidade, como Madame Tussaud e passeios no Opera House. Ganhamos até um minicruzeiro!
Mas como bom brasileiro, pedi para irmos aos outlets! Acontece que a galera não se empolgou muito e logo entendi o porquê. Eles nos levaram a um lugar chamado Birkenhead Point, em Drummoyne, um outlet muito bacana e com uma vista maravilhosa da baía de Sydney. Foi lá que entendi o óbvio: as marcas famosas também são importadas por lá, logo, tão caras quanto aqui. Conformado, passei a usar o brasileiríssimo “tô só dando uma olhadinha”. Foi quando fiquei admirando uma calça na vitrine da Levi’s. Logo, uma simpática vendedora apareceu e tivemos o seguinte diálogo:
– Moça, quanto custa essa calça?
– Apenas 49 dólares, senhor!
– Puxa… tá fora do meu padrão.
– Olha, se você levar 2, eu faço por 99!
– Moça, se eu não tenho 49, por que eu teria 99? – brinquei.
A vendedora sorriu, levou a mão ao queixo como se refletisse sobre algo e disse: “Quer saber? Pode levar as duas de graça!”
Chamei meu amigo Saulo que estava fora da loja e pedi socorro: “Mano, meu inglês tá pior do que eu imaginava. A moça meteu um ‘for free’ ali no meio da frase e eu podia jurar que ela queria me dar as roupas de graça. Conversa com ela, por favor?”
Eu via o Saulo gesticulando, coçando a cabeça como quem não tá entendendo nada e, quando eu já estava pensando em voltar pras aulas de inglês, ele volta: “Roger, pelo que entendi, é isso mesmo que ela tá propondo”.
O inglês australiano é uma mistura de inglês britânico com sei-lá-o-quê, e eu estava traumatizado com um japonês doido, dono de um quiosque, que havia brigado comigo pouco antes porque eu pedi uma “uórer” e ele foi bruto: “‘Uatá’, no ‘uórerrr’”. Mesmo assim, confrontei a vendedora: “Moça, por que você tá fazendo isso? Isso é loucura!”. Ela franziu a testa e disse brava: “Você tá me ofendendo! Eu não sou louca!”
Pedi desculpas e expliquei: “Moça, é que no Brasil, ninguém faz isso, não!” – Saulo cochichou: “Aqui também não, Roger” (rs). Então, ela abriu o coração: “Olha, quando você entrou aqui, eu senti algo muito bom a seu respeito. Alguma coisa me dizia que você tem um coração de luz e eu entendi que eu devia fazer isso por você. Aliás… seu amigo também pode escolher! E aquela moça que estava com vocês? Pega pra ela também!”
Olhei pro Saulo… ele ergueu os ombros e virou a cabeça como quem diz: “É o jeito arriscar!”. Olhei pra vendedora e ainda me certifiquei: “Tem certeza disso, moça?”. Ela sorriu e me empurrou as roupas: “O provador é ali!”.
Já no caixa, enquanto ela bipava aquele monte de peça numa alegria contagiante, me esforcei para agradecer: “Olha, eu ainda não sei por que você está fazendo isso e nem sei como te agradecer. Tudo o que posso dizer é que Jesus te ama e hoje estarei falando sobre Ele lá em Kingsgrove. Se puder, aparece por lá!”. Quando estávamos na porta, cheio de sacolas, olhei pro Saulo e não escondi minha fé vacilante: “Meu, corre antes que essa moça recobre o juízo!” (rs).
Sabe, essa história me intrigou por dias, até que eu decidi orar e o Espírito Santo falou comigo: “Filho, onde quer que eu te leve, vou cuidar de você. Não se preocupe, simplesmente obedeça ao meu chamado e não duvide.” Assim, eu vi a provisão de Deus por um único motivo: “Não te mandei EU? Sê forte e corajoso; não temas, nem te espantes; porque o Senhor teu Deus é contigo, por onde quer que andares.”
Acredite, quando Deus envia, Ele patrocina.