O vazio da conquista
E vinte anos depois de termos sido apresentados a uma das tramas mais frustrantes dos desenhos animados, finalmente o esquilinho Scrat de Era do Gelo se deliciou com a sua tão sonhada noz. Alguns artistas da Blue Sky Studios, responsável pela criação da animação, se reuniram para fazer a cena final do Scrat, isso porque o estúdio foi fechado no ano passado.
Mas muito mais que uma cena fofa, o curta de meros 34 segundos parece trazer uma mensagem linda por trás da conclusão dessa jornada. Na cena, Scrat aparece como de costume, farejando por comida, quando encontra a noz. Antes de deliciar-se com sua conquista, abraça-a com carinho e, de repente, se dá conta de que mais uma vez poderia ter seu triunfo destruído por uma fenda no gelo. Ergue a noz e já espera o pior. Com a estranha sensação de nada ter acontecido e muito desconfiado, o esquilinho olha pros lados e, muito receoso, mastiga a noz numa clara espera por alguma tragédia iminente.
Quando finalmente o esquilo conclui a refeição mais almejada de sua vida, o filme nos dá um único frame icônico: a nítida frustração de Scrat. Exatamente assim, sem aquela trilha sonora épica de conquista, sem os divertidos pizzicatos de violinos… nada! Simplesmente o vazio da conquista. Assim, após uma jornada de 20 anos de decepções e muito esforço, Scrat fareja algo e sai de cena na mesma motivação com a qual entrou.
A sensação de vazio quando se alcança algo desejado há muito tempo é mais comum do que se imagina. Muitas vezes geramos uma expectativa gigantesca por um objetivo que, quando alcançado, pode não necessariamente nos frustrar, mas fazer-nos descobrir que aquilo jamais poderá nos preencher. O cargo dos sonhos, a namorada impossível, o maior feito da carreira… Metas e objetivos que, na maioria das vezes, nos roubam momentos preciosos com a família, com os amigos ou de cuidados para com a nossa saúde mental.
Assim, talvez, e só talvez, nossa maior conquista não seja o topo, mas os desafios da escalada. Como disse Paul Hewson em sua busca pelo Espírito Santo: “Eu ainda não encontrei o que estou procurando”.
Que a nossa vida seja uma eterna busca por respostas e não uma escalada insana por conquistas vazias.