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Não dói mais, e isso dói

Talvez, dentre todos os mistérios da vida, o mais intrigante seja a existência da dor. Atire a primeira pedra aquele que nunca se questionou sobre o porquê de estar passando por determinado sofrimento. A questão é tão relevante que se tornou arma letal na mão do ateu: “Se Deus é tão bom, por que sofremos?”

Ao procurarmos por uma segunda opinião, temos a resposta pronta do bom samaritano: “Você está passando por isso para que um dia possa ajudar alguém”. O problema dessa solução paliativa é que não há altruísmo suficiente nesse mundo que alivie certas dores. Elas são perenes e, simplesmente, insistem em doer.

Em seu livro “Alma Sobrevivente”, Philip Yancey relata um comentário do Dr. Paul Brand sobre seus pacientes de hanseníase (antigamente conhecida como lepra). O Dr. Brand insistia na grande importância da dor, já que, por destruir as terminações nervosas, a hanseníase não permite que o doente sinta dor, por isso, ele acaba tendo infecções por, por exemplo, pegar um cabo de vassoura lascado – vem a infecção, e ele não cuida do problema porque nenhuma dor o alerta.

Assim, nos traz certo alívio saber que a dor tem pelo menos um propósito: nos alertar de que algo está errado. Uma pessoa amargurada, ferida, mais cedo ou mais tarde acaba nos ferindo. O diagnóstico precoce do “ela é assim mesmo” é puro placebo pra consciência. O melhor remédio nesses casos é usar um bom estetoscópio para ouvir o coração.

Te apresentei todo esse cenário apenas pra te dizer uma coisa: enquanto dói, não reclame, ainda há esperança. Se te machuca, é porque você ainda sente e pode tratar. Enquanto te incomoda, é porque você ainda se importa, seu coração ainda está batendo.

Conselho de amigo: trate enquanto dói, porque se parar de doer sem ter sido tratado, é porque algo morreu.