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Luiz Gonzaga

Cresci ouvindo histórias da igrejinha no sertão, sempre regadas à muita música boa e no melhor estilo do brasileiríssimo choro.

Na verdade, papai não sabe exatamente o quê toca. Quando tocávamos juntos em minha adolescência, era comum vê-lo esnobar uma escala diminuta sem (ele) sequer sonhar do que se tratava.

Não esqueço da primeira vez que o vi encerrar uma música com sexta e nona: “Pai, que acorde é esse?” – “Sei lá!”

Parece que esse mesmo empirismo papai trouxe para a vida. De tudo, um pouco sabe. De tudo, um pouco aprecia. De tudo, um pouco já sofreu.

Mas de tudo e um pouco, o que mais me encanta é o pouco que fala. Talvez o pouco que interfira… mas muito mais o pouco com que se satisfaz.

Só vi papai chorar umas 2 ou 3 vezes. Quando perdeu seu melhor amigo, quando me contou sobre a conversão de um outro amigo e quando me viu solteiro novamente.

Não sei se essa valentia toda vem da pacata Catolé do Rocha ou se vem lá do alto, da fé, de seus momentos incansáveis de leitura da Palavra, tudo o que sei é que me encanta, me inspira e inevitavelmente me motiva.

Por muito tempo me iludi nesta herança. Cheguei a acreditar que o dom da música e da leitura, naturalmente herdados, me fariam parecido, até mesmo igual. Mas igual ninguém é. E papai… ah… papai é ímpar.

Minha oração neste dia é que o Nosso Pai dê a meu pai o que papai deu pra mim: vida, alegria e paz.

Feliz aniversário, pai!