E se a igreja fechasse?
Eu ainda era um adolescente quando ouvi pela primeira vez a palavra “feedback”. À época, não era modinha, era minha primeira aula de sistemas no curso técnico em que o professor explicava que feedback era a resposta que o receptor dava pela informação recebida. Basicamente, para saber se a informação estava chegando do outro lado era preciso obter uma resposta positiva, o tal feedback. Lembrei disso porque me questionava essa manhã: como saber se minha fé é realmente inabalável?
Embora a fé seja um tema mais do que subjetivo, nos acostumamos a rotular sua legitimidade baseados no resultado que [aparentemente] ela traz. Compliquei? Explico! Se você nasceu em berço cristão (não, não é um berço que fala em línguas), você deve lembrar de sua mãe te dando aquela bronca no dia em que você não quis ir à igreja. E geralmente, as mães diziam algo assim: “Puxa, nem parece o filho da irmã Fulana. Ele é uma bênção! Vai à igreja quase todos os dias!”, ou seja, a legitimidade da fé do bendito fulano era atestada por ele sempre frequentar as reuniões da igreja (e mais do que você, claro! rs).
Porém, frequência não era o único quesito em que se atestava os abençoados e os “trevas”. Era preciso estar engajado em algum grupo de louvor ou ainda ter “oportunidade para louvar”, sem isso, você era só um “crente de banco”. Assim, fomos nos apegando ao ativismo religioso e fazendo dele nosso feedback celestial. E quanto mais atarefado se estava, mais fervoroso eram os testemunhos a seu respeito. Hoje, quando olhamos para esse tempo de imaturidade, olhamos com um certo desdém. Isso, porque “já passamos dessa fase”, diriam alguns. Já somos maduros o suficiente para saber que nossa fé não está baseada naquilo que fazemos na igreja, mas, sim, naquilo que cremos. Muito bem, mas seja o mais honesto possível e responda essa reflexão, que mais parece um delírio:
Imagine que você foi dormir ontem à noite em sua cama e acordou essa manhã em Bangladesh. Ali, após o susto de não estar em seu quarto, você corre e descobre que não há qualquer explicação para o que se passa. Sem dinheiro, sem falar o idioma local, sem celular, sem ninguém para lhe ajudar e, aparentemente, sem nenhuma igreja por perto, pergunto: como se comportaria a sua fé nesta situação?
Eu sei, parece uma cena incoerente e sem propósito. Mas a verdade é que muitas pessoas ainda baseiam sua fé num comportamento, numa atividade e não numa entrega completa de ser. Creem porque frequentam um culto todo domingo. Entendem o feedback positivo do Eterno porque pecaram e “nada lhes aconteceu”. Outros, jamais prestaram um culto na vida sem seu instrumento musical na mão ou longe da atividade corriqueira de uma comunidade cristã. Tal como Pedro, caminham em direção ao Mestre sobre as águas, mas numa condição extremamente frágil, movida pela emoção e pelo ativismo dominical. É o músico que vai à igreja apenas quando está na escala.
Creio firmemente que o Senhor está nos convidando à uma relação que não dependa de quaisquer artifícios, sejam cargos, atividades eclesiásticas e muito menos um instrumento musical. Creio, porque Jesus deixou bem claro: “Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás.” – sim, nesta ordem. Afinal, antes de entregar uma igreja a Pedro, Jesus lhe ofereceu um delicioso peixe na brasa. Primeiro o amor, depois o serviço. Portanto, se você se encontra nesta situação, clame ao Senhor! Porque mais maravilhoso do que andar sobre as águas é ser resgatado por Cristo quando se está afundando.
No amor de Cristo,
Roger
(*) Em Bangladesh, a maioria das igrejas cristãs não expõem placas, cruz ou qualquer símbolo religioso por causa da perseguição.