Chamado ou Obrigação?
Essa semana, uma amiga pediu minha ajuda na correção de uma de suas canções. Não sou nenhum Pasquale, tampouco teólogo, mas gosto de contribuir naquilo que posso. Assim, comentei que uma de suas frases poderia dar a ideia de que servir ao Senhor é uma obrigação. Evidente que muitos o consideram assim, mas é preciso ponderar. Há mais de 10 anos estou envolvido com o ministério Escola de Adoração. Embora nosso objetivo seja principalmente proclamar que adoração não é música, muitos ainda me associam a este ministério – alguns até me convidam para cantar em seus eventos (Pai, perdoa-lhes! Eles não fazem ideia do estrago que eu faria rs). Não fui chamado para cantar, embora seja músico. Meu chamado é mesmo para ensinar – o que pode parecer prepotência, mas também tenho que conviver com esse estereótipo. Assim, amo estudos bíblicos, treinamentos ministeriais, palestras, escolas bíblicas e por aí vai. Mas o que faz brilhar meus olhos e arder meu coração é, sem dúvida, a pregação da Palavra.
Não sou nenhum avivalista, nem creio que isso exista, a não ser o próprio Espírito Santo, mas prego ensinando… ou ensino pregando, sei lá. Só sei que quando estou em um púlpito tenho a sensação de que tudo na minha vida faz sentido. Tudo o que vivi, aprendi, sofri, experimentei e errei me parece ter sido objetivando esses momentos de ministração. E quando me pergunto por que faço isso, se por obrigação ou paixão, a resposta é simples: nem por um, nem por outro – prego porque isso dá sentido a minha existência.
Quando Jeremias profetiza uma palavra dura ao povo de Israel, o sacerdote Pasur, alto funcionário do templo, manda prendê-lo e torturá-lo. Depois de apanhar a noite inteira no tronco, Jeremias não mede palavras para reclamar com Deus: “Você me enganou! Estão todos zombando de mim…” (Jr. 20.7). Talvez esta não seja uma cena comum para aqueles que ouvem nossas ministrações. Sim, nós brigamos com Deus muitas vezes, porque vemos acontecer milagres e libertações na vida de quem ministramos, e conosco, às vezes, não é bem assim. Glória ao Deus que nos compreende, suporta e provavelmente ignora nossas reclamações e indignações (ou não). Bendito seja Aquele que nos olha com Seu olhar de misericórdia e entende nossa revolta.
Mas eis o coração dessa mensagem: Jeremias mal termina de lamentar-se com Deus sentindo-se abandonado, e proclama aquilo que deve ser o lema daqueles que pregam a Palavra de Deus. Ele diz que quando pensava em desistir, era como se um fogo ardente consumisse seu coração ao ponto de arder nos seus ossos (Jr. 20.9).
Glória a Deus por sua vida, pregador! Essa mensagem é mesmo pra você. Não pare! Não desista! Nosso chamado não é fácil. Somos obrigados a ouvir desaforos cada vez que damos um espirro mais alto com frases do tipo “…mas você prega, fica lá no púlpito se fazendo de santo e blá blá blá…”, como se a graça ou a lei de Deus fosse diferenciada para nós. Não é! Você é escolhido do Pai para ser porta-voz de Sua verdade, de Seu amor e graça. Na mesma proporção dessa responsabilidade (e ainda mais), é o amor de Deus por nós.
Que a graça do Senhor seja sobre nossa vida, e que Ele continue nos ignorando em nossos momentos de revoltas e lamentações, porque logo em seguida, Ele bem sabe, estaremos prontos a dizer novamente em alto e bom som: só Ele é Senhor!
Um abraço forte desse seu amigo que entende exatamente o que é isso.
No amor do Pai,
Roger Da Escola