1

Caminhando para o Céu ou fugindo do Inferno?

"Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma, 
de todo o seu entendimento e de todas as suas forças" - Mc. 12.30

Enxergar o copo meio cheio ou meio vazio pode ser apenas uma questão de otimismo. Já as motivações para a fé cristã não podem se dar ao luxo de serem validadas pela opinião popular, pois foram elucidadas pela Palavra de Deus – nossa regra de fé e prática. As superstições e o sentimento de vingança, típicos de uma ala do cristianismo contemporâneo, valem-se das histórias do Antigo Testamento, onde Deus punia severamente aqueles que se opunham às Suas leis. Não tenho a menor competência para explicar o porquê dessas chacinas e condenações de Jeová, apenas imagino que essa era a linguagem entendida pelos povos bárbaros dos tempos bíblicos. No entanto, como nasci da Nova Aliança, me firmo nas palavras de Jesus: “Ouviste o que foi dito… Eu porém vos digo…”.

heaven_and_hell_sign-wallpaper-2560x1600

Não foram poucas as histórias que ouvi de gente que “mexeu” com Deus e foi punida de forma severa. Gente que abandonou a igreja e se viu em maus lençóis. Pessoas que não deram o dízimo e, naquele mês, bateram o carro. Mulheres que cortaram o cabelo e adoeceram. Certa vez fiquei sabendo de uma irmã que tomou a Ceia em pecado e caiu mortinha no culto. Recentemente fiz um comentário em um blog e recebi uma maldição virtual: a irmã profetizou que meus dedos cairiam. Fato é que essas superstições geralmente vêm acompanhadas de versículos estratégicos como o “Terrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo” (Hb. 10.31) ou do famoso “Não toqueis os meus ungidos, e aos meus profetas não façais mal.” (I Cr. 16.22), pretextos claros para a vingança de alguns ou de escudos eclesiásticos para todo o tipo de despotismo dos falsos ministros. Diferente de toda essa religiosidade que amedronta e afugenta, Jesus nos propõe outra via quando convida: “Segue-me!”. Como sempre diz meu amigo Alan: “Isto é proposto, não imposto”. 

Aqueles que ouviram e responderam “sim” ao chamado do Mestre seguem caminhando para o Céu, não se importando com as mandingas evangélicas. Seu dízimo é oferta de um coração agradecido, consciente da necessidade de expansão do Reino, afinal, a luz do templo ainda não acende com oração. Os que foram agraciados pelo amor de Jesus também não vão à igreja por medo do “fogo consumidor”, mas pela incontrolável necessidade de abraçar o outro, de celebrar a comunhão, de adorar Àquele que nos amou primeiro.

Que essa visão de um Deus sádico, ansioso pelo primeiro deslize de Seus filhos, seja desfeita na pessoa bendita de Jesus. Que o amor e a amizade com Deus e com o próximo sejam nossas motivações diárias para o exercício da fé cristã. E que o Espírito de Deus seja sempre Aquele que nos faz andar na verdade.

A caminho do Céu,

L. Rogério




Um Pai amoroso e gentil

Vivemos num país de muitos dialetos. É comum, por exemplo, um paulista perder o fio da meada numa conversa com um nordestino. Cresci ouvindo minha tia dizer: “Arre-ema!”. Demorei entender o que meu pai queria o dia em que ele me pediu uma liguinha. Já minha mãe cansou de dizer durante as refeições que eu era esgalamido. E quando a gente não se aquietava num lugar diziam que tínhamos um frivião e que o que valia era a Lei do Chico de Brito (esse era famoso lá pelo Ceará). Mas de exemplos é bom parar por aqui, pois não quero mangar de ninguém, vai que tem algum familiar pastoreando meu blog. Mas tão peculiar quanto o dialeto, é a forma como se fala no nordeste do país. O que para muitos de nós, paulistas, parece ser uma grosseria, na verdade não passa de uma resposta simples e direta.

father-baby

Eu era ainda um menino quando visitei pela primeira vez a sede de nossa igreja com meu pai. Acostumado apenas com a galeria de minha igreja, contemplei espantado as três que formavam aquele grande templo, e logo perguntei: “Pai, isso não cai, não!?” – ao que ele me respondeu com toda delicadeza paraibana: “Isso não é feito de cuspe, não, ‘mininu’!”. Mas filho de nordestino não cresce com trauma, não… cresce cada vez mais macho! Mesmo porque, não se tratava de grosseria – esse é apenas o jeitão nordestino de ser!

Contudo, independente de nossa formação, a Bíblia nos fala de amabilidade como fruto do Espírito (Gl. 5.22). E não há como expressar amabilidade a não ser por gestos e palavras. Jesus deixou claro sua delicadeza quando disse: “Eis que estou à porta e bato!” (Ap. 3.20). O próprio Deus mostrou-se gentil ao chamar o menino Samuel sem assustá-lo (I Sm. 3.4), imitando a voz rouca e bem conhecida do sacerdote Eli.

É triste saber que muitos cristãos e obreiros (principalmente), ainda não entenderam o que é amabilidade. Pior que isso, vivem uma vida ranzinza e rabugenta acreditando, mesmo assim, ter os frutos do Espírito, quando na verdade a Bíblia nunca falou-nos de frutos, mas sim de fruto! Essa singularidade deixa claro que, ou se tem o TODO, ou não se tem nada. A amabilidade é consequência natural de todo aquele que foi alcançado pelo amor do Pai. Uma espiritualidade que não se desdobra no bom trato, não passa de língua estranha.

Que em nome de Jesus sejamos amáveis uns com os outros no trato, no falar, na hospitalidade, na formação de novos discípulos, na tolerância aos mais fracos e principalmente no respeito para com as diferenças. Que o toque carinhoso do Pai seja imitado por nós, seus filhos, no dia-a-dia e na Casa do Senhor.

Naquele que nos criou com carinho,

Roger




Quem quer milagre?

É impressionante como a Bíblia é contemporânea. Às vezes tenho a estranha sensação de que os escritores moram aqui ao lado. Observe João 6. A Páscoa se aproximava. Uma multidão seguia Jesus depois de ver os milagres que Ele realizara. Organizado, Jesus pede que a multidão se assente e realiza então a sua primeira multiplicação dos pães. De acordo com o Discovery Channel, o povo chegava a pagar cerca de 30% de sua renda em impostos, fora os dízimos que, muitas vezes, eram arrancados à força pela elite sacerdotal. O clima de revolta contra os romanos era latente, mas nítido. Diante desse quadro, um homem simples, amigo do povão, aparece curando os enfermos e saciando uma multidão de cerca de cinco mil homens. Oras, era literalmente a fome encontrando a vontade de comer. Imediatamente o povo quis coroar Jesus, que prontamente retirou-se sozinho para os montes. Porém, o povão, determinado em coroar Jesus, persegue-o até encontrá-lo. Chega, então, já puxando conversa: “Jesus, quando você chegou aqui?” – ao que Jesus responde (mais ou menos) assim: “Eu sei porque vocês estão me procurando. Tão de barriga cheia, né!? Vocês precisam é crer em mim!”, ao que o povo responde: “Vixe, por isso, não! Nossos pais comeram maná do céu. E você, Jesus… O que tem para nos oferecer?” (v. 26-33).

moses

Eis o vislumbre hodierno. Quando me pego nos embates apologéticos da vida, sou categórico: “A culpa é do povo. Os apóstolos e profetas da atualidade simplesmente dão o que lhes pedem.” A coisa é simples assim – a igreja que oferecer mais, leva! Lei básica da oferta e procura. Quantos são curados na sua igreja por domingo? Quantos caem? Você ganha o copinho com água benzi… ops, ungida ou tem que levar de casa? Na sua igreja tem arca? Quantos atos proféticos vocês já fizeram esse ano? Tem fogueira? E shofar? Meu irmão, chega a ser constragedor dizer que lá na igreja a gente faz o louvor, recolhe uma oferta voluntária, reflete na Palavra e depois vai pra casa. Tá difícil competir com essas raves evangélicas que varam a noite e só terminam quando acaba a lã.

Mas cá pra nós? O povo gosta! E se disser que “hoje o teu milagre vai chegar” aí é que o povão fica satisfeito – dá até 30% de dízimo (rs), mesmo que não aconteça absolutamente nada, afinal, tem que ter fé… e muita, porque viver com 70% hoje em dia tá pela hora da morte.

Mas voltando à subversividade do evangelho da cruz, quando o povo ouve as palavras de Jesus, resmunga: “Ai, que palavra dura. Deixa quieto. Vam’bora?”. Então, como não tinha programa de rádio, TV ou contrução de mega-templo em vista, Jesus diz pros doze: “E aí… Não querem ir também?” Esse Jesus, hein… Dá até a impressão de que Ele não se interessa muito por quem vai à igreja apenas em busca de milagres. Sei lá… prefiro dizer como Pedro: “Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras de vida eterna. Nós cremos e sabemos que és o Santo de Deus” – isso me basta!

Toda glória ao Senhor Jesus!




É pecado julgar?

Existe um discurso politicamente correto que flui honrosamente da boca daqueles que geralmente odeiam a confrontação: “Vou à igreja, assisto o ‘meu’ culto, volto pra casa e não falo mal da vida de ninguém. Acho que se cada um cuidasse de sua própria vida e deixasse esse negócio de criticar o que é dito na igreja, nós teríamos uma igreja bem melhor.” Gente assim, dificilmente tem um senso crítico a respeito de sua fé. Não sabe porque crê. Não sabe no que crê. Contenta-se com uma fé cega, surda e muda. Afinal, dizem os tais, ai daquele que tocar nos ungidos do Senhor. Esquecem-se porém, que, diferente do Antigo Testamento, todos fomos ungidos na Nova Aliança: “Mas vocês têm uma unção que procede do Santo, e todos vocês têm conhecimento (…). Quanto a vocês, a unção que receberam dele permanece em vocês (…)” I Jo. 2.20,27

BTB71A

Estamos testemunhando um tempo histórico, em que os crentes seguem à risca tudo aquilo que lhes é dito a partir de um púlpito, sem titubear (claro, desde que isso não conflite com todas as bênçãos que Ele tem guardado em sua cartola mágica). Não sei o que é pior, vender aos crentes a bênção em forma de amuletos dos mais esdrúxulos, ou pior: comprá-la! Será que ainda existem crentes que não entenderam que o que Jesus condenou foi o julgamento hipócrita, e não o julgar em si (Mt. 7.1-6)? Será que nunca estaremos prontos para tirar o cisco do olho de nosso irmão? Será que Jesus não foi o suficientemente claro ao dizer que depois de tirarmos a viga de nossos olhos estaríamos aptos para exercer o julgamento? Ouso propor uma resposta: o descaso do povo para com a Palavra continuará sustentando muitas mentiras, heresias e agressões à alma. Ah… que falta fazem os bereanos! O livro de Atos não poupa elogios quando diz que eles “eram mais nobres do que os tessalonicenses, pois receberam a mensagem com grande interesse, examinando todos os dias as Escrituras, para ver se tudo era assim mesmo.” (At. 17.11)

Jesus disse: “Não julguem apenas pela aparência, mas façam julgamentos justos!” (Jo. 7.24). Disse também: “Por que vocês não julgam por si mesmos o que é justo?” (Lc. 12.57). O Apóstolo Paulo também não deixou margem para dúvidas quando disse: “Estou falando a pessoas sensatas; julguem vocês mesmos o que estou dizendo.” (I Co. 10.15).

Há ainda aqueles mais pacificadores que, mansamente, nos lembram: “…ponham à prova todas as coisas e fiquem com o que é bom!” (I Te. 5.21). O problema nesse caso é, como diria meu professor Franco Júnior: “O que é bom?”. Afinal, como já disse aqui, o ruim não é receber e-mails criticando meus posicionamentos, o ruim é receber respostas baseadas naachologia. E convenhamos: esse é o parâmetro utilizado pela maioria dos crentes hoje em dia. Não! Mil vezes não! A Bíblia é o nosso referencial. E mais: não me importa quantos milhões de CDs vendeu o camarada que inventou a fábula de um Zaqueu que consegue chamar a atenção de Jesus – a Bíblia não diz isso. Não me importa o brilho reluzente do troféu da moça que quer te colocar no palco e humilhar os seus irmãos, a Bíblia não diz que será assim. Também pouco me importa se hoje é 9/9/2009 ou 10/10/2010, a sua bênção não custa R$ 900,00, nem custará R$ 10.000,00 no ano que vem, a Bíblia não respalda isso. Por fim, não me importa quem “profetizou”, nenhuma arca vai proteger a minha casa, mesmo com anjinho e tudo. A Bíblia diz que “…se não é o Senhor que vigia a cidade, será inútil a sentinela montar guarda.” (Sl. 127.1)

Que Deus levante mais bereanos. Gente que duvida, que critica, que denuncia. Gente que pinta a cara, mas não é palhaço! Homens e mulheres que não tenham medo da verdade, custe o que custar. Só assim a igreja evangélica brasileira voltará ao caminho da verdade, afinal, para esse, não há atalhos. Deus nos guarde dos lobos!

L. Rogério




De quem é a culpa?

Desde que Adão passou a bola pra Eva, que por sua vez repassou para a serpente, o homem tem o péssimo hábito de passar a culpa adiante. Meu sobrinho Vinícius ainda mal fala as palavras corretamente, mas quando o caldo entorna, já sabe apontar pro irmão e dizer: “Foi o Biel!”. O grupo de louvor está passando por momentos difíceis? O louvor não está fluindo? Estão brigando entre si? Culpa do diabo! Perdeu a chave… Não encontra os óculos? Foi o capiroto! Conta negativa? É o encosto! A balança entortou quando você subiu!? Adivinha… Encosto! E dos pesados!

Capiroto-1280x550

Já cheguei a conclusão que em muitas igrejas o diabo não precisa se preocupar em colocar discórdia entre os ditos irmãos. Aliás, quando alguém diz que o inimigo está atuando para separar tal grupo, tenho certeza que o infeliz diz: “Eu??? Não me coloca no rolo! Não tive nada a ver com isso!”. A verdade é que a maioria dos problemas das igrejas seriam resolvidos com um pouco de educação e bom senso. É verdade também que não podemos subestimar a atuação do diabo e suas hostes, embora alguns super-crentes o chamem pra batalha e digam que não têm medo de nada, ainda sou mais propenso a Judas 9:

“Contudo, nem mesmo o arcanjo Miguel, quando estava
disputando com o Diabo acerca do corpo de Moisés, ousou fazer
acusação injuriosa contra ele, mas disse: ‘O Senhor o repreenda'”

Quando os 72 discípulos enviados por Jesus voltaram de sua missão, voltaram rejubilantes porque haviam expulsado os demônios. Porém, Jesus lhes disse: “…alegrem-se, não porque os espíritos se submetem a vocês, mas porque seus nomes estão escritos nos céus” (Lc. 10.20).

É tempo de deixar de lado as tais “batalhas espirituais” e refletir sobre as responsabilidades de nossas mazelas. Tem muita gente buscando armas espirituais para combater o inferno num verdadeiro Star Wars Evangélico, mas que ainda não aprendeu a respeitar o descanso do vizinho, apagar a luz ao sair de um ambiente ou a realmente pagar uma TV a cabo ao invés de puxar uma “extensão” do poste.

Quando Jesus nos convida a seguir-Lhe, não deixa dúvidas quanto aos principais requisitos do chamado: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me!” (Mc. 8.34). Perceba que no imperativo dos três verbos não há menção do inimigo de nossas almas ou de qualquer terceiro na história. Concluo que meu maior inimigo sou eu mesmo! Negar a si mesmo é o maior desafio de nossa era. Tudo é feito para satisfazer nosso eu. E se alguém já pensa em repassar a responsabilidade pro Diabo, lembre-se que o maior propagador da satisfação pessoal aqui na terra é o tal evangelho da prosperidade. Se bem que esse talvez tenha mesmo uma mãozinha do cão (rs).

Que possamos hoje mesmo, em nome de Jesus, assumir nossas responsabilidades para com o Reino de Deus e para com a vida, afinal, quem tem posto a mão no arado e olha para trás não é apto para a obra do Senhor.

No amor do Pai,

Roger




Caçadores de Profeta

Sempre achava estranho quando meu amigo Alan Brizotti respondia minhas perguntas intrigantes com outras mais intrigantes ainda. A princípio achava que isso era mesmo coisa de filósofo. Porém, convivendo com meu amigo, percebi sua ojeriza pela resposta pronta e entendi o porquê. A resposta cessa a beleza do descobrir, da possibilidade, dessa força que nos impulsiona em busca de respostas. Um paradoxo maravilhoso que nos liberta mais e mais a cada dia.

cacador

Contudo, a palavra “mistério” tem se tornado uma obsessão na vida de alguns crentes. Quanto mais “enrolado for o rôlo”, quanto menos se entender e, às vezes, quanto mais estranho for o negócio, mais crentes são atraídos para as coisas encobertas. Aliás, “as coisas encobertas são para Deus” (Dt. 29.29) tornou-se a frase genérica que finaliza qualquer discussão – uma paulada na cabeça de qualquer aspirante a pensador.

“Eis que entrarei no seu plá plá plá…
e vou fazer um reboliço no seu prô prô prô…”.

Bom, além de não me informar absolutamente nada, essa frase ainda tem uma conotação péssima! (rs) Ela não é invenção minha, confesso. Escuto essa piada desde que era menino. Mas a verdade é que existe um grupo de pessoas que não tem a menor paciência para conviver com Deus e ir, aos poucos, descobrindo a revelação de seus mistérios. Mas antes que meus “amigos do manto” me crucifiquem, quero trazer à memória algumas vezes que o Senhor falou comigo no meio do fogo (rs).

Eu era um adolescente que acabara de ganhar a oportunidade de trabalhar pela primeira vez. O profeta, usado poderosamente por Deus, me dissera de forma muito clara que eu teria uma sala, um computador e uma mesa. Minha fé, que na época ainda vivia de fraldas, não suportou tamanha revelação. “Um office-boy com tudo isso? Sei…” Para minha surpresa, alguns meses depois eu já tinha tudo o que o “homi-di-Deus” tinha visto. Cerca de dois anos depois e eu era Administrador de Redes. Foi quando outra profeta disse que eu deveria preparar as malas, pois faria uma viagem. Ela ainda disse que via um grande número 3 na minha frente. Alguns meses depois e eu fazia minha primeira viagem de negócios, embarcando no portão 3. Pra resumir, foi assim com a viagem internacional, o sequestro e tantas outras vezes que meu coração necessitou de alívio, minha alma de paz e minha mente de um direcionamento. Porém, percebi que conforme fui crescendo, estudando a Palavra e tendo minhas próprias experiências com Deus, as manifestações proféticas ficaram cada vez mais escassas. Entendo que quando eu era menino, precisava de leite (I Co. 13.11). E eis aí o cerne do problema de muitos cristãos.

Por vivermos o “fast-food da fé, onde tudo já vem pronto, mastigado” (Alan Brizotti), não temos mais paciência de cultivar uma verdadeira amizade com Deus. O Senhor Jesus disse que se fizéssemos Sua vontade, seríamos Seus amigos (Jo. 15.14). Nos esquecemos, porém, que mesmo uma amizade genuína é marcada algumas vezes por desentendimentos, frustrações, distanciamentos e até mesmo segredos não revelados. É aqui onde percebo a beleza da amizade com Deus. Quando o Senhor apareceu a Jó, não lhe deu explicações sobre sua desgraça repentina, muito menos revelou Seus mistérios mais profundos. Não obstante, Jó se levanta das cinzas dizendo: “Meus ouvidos já tinham ouvido a Teu respeito, mas agora os meus olhos te viram” (Jó. 42.5). Sinceramente? Alguns dias tenho vontade de gritar da janela da sala (onde costumo falar com Deus pelas madrugadas) e dizer-lhe que estou farto de tanto mistério! Que a minha vida não faz o menor sentido. Outros dias, porém, e esses são mais frequentes (graças a Deus), digo-lhe com satisfação que embora não O entenda, continuo fascinado por Sua forma de trabalhar.

Não, amigo leitor, eu não tive respostas às minhas perguntas mais intrigantes. Também não tive nenhuma visão a cerca do meu ministério. Deus não me deu sonhos. Faz tempo que não ouço uma profecia. Já faz tempo que o mistério não é revelado. Porém, minha busca por Deus está cada vez mais emocionante. Sinto que quando abro uma porta desconhecida de minha fé, surgem novos questionamentos, mais trabalho pela frente, mais estudo da Palavra… E glória a Deus por isso!

Conselho de amigo – não busque respostas às suas perguntas. Respostas encerram histórias. Tal como aquele alpinista que chega ao topo do monte mais desafiador e ao fincar ali sua bandeira, grita: “Uhuuu… consegui!” – olha pra um lado, olha pra outro, respira fundo… a adrenalina acaba, ele tira a bandeira e volta pra casa. Com Deus, nunca chegarei ao pico. Ele sempre me levará cada vez mais alto. E mesmo que cada vez mais me falte o ar, tenho uma certeza: estou no caminho certo!

Um abraço sem mistério,

Roger




Adoração de Gérson

Era 1976 quando o jogador da Seleção Brasileira, Gérson, protagonizou o comercial dos cigarros Vila Rica e cravou uma das expressões mais conhecidas e, infelizmente, mais praticadas no Brasil: “Gosto de levar vantagem em tudo, certo? Leve vantagem você também!”. A frase deu origem à “Lei de Gérson” que se traduz em tudo aquilo que se faz na busca do benefício próprio, sem se importar com questões éticas ou morais. É triste se constatar que o evangelho no Brasil, mesmo importando tantos modismos e heresias gringas, também faça uso das mazelas nacionais. Percebo isso não apenas quando o assunto é ofertar, e a máxima, chavão tão consagrado em nosso meio, volta à tona: “Aquilo que você ofertar, Deus lhe restituirá em dobro”, ao que se segue com o grupo de louvor entoando vorazmente: “Restitui! Eu quero de volta o que é meu…”

Não! Já não basta-nos o simples prazer e privilégio de ir à Casa do Senhor adorá-lO pela Sua misericórdia e bondade. É preciso algo mais… um motivo “maior”. Na busca ou na invenção de tal motivo, ouve-se de tudo:

“Venha para a Casa do Senhor, pois Ele tem uma bênção para você!”
“Vamos trabalhar para Jesus, irmãos, pois nossa obra tem uma recompensa!”
“E para você que é parceiro fiel de nosso ministério, vamos fazer uma oração forte…”

Perceba que na maioria dos exemplos acima há certa verdade, mas que pode ser sutilmente adulterada sob a pretensão de fé. Como diria meu professor Franko Júnior: “Um capitalismo disfarçado de fé”. Porém, a sutileza vem à tona e se desfaz quando vemos uma igreja que precisa justificar toda a sua adoração. Espera-se ansiosamente até que o pregador fale algo “positivo” para que se dê um brado de vitória. Os testemunhos de prosperidade vêm para atestar o bom investimento no Reino. Há ainda a garantia do retorno de todo o seu empenho quando canta-se: “Eu não morrerei enquanto o Senhor não cumprir em mim todos os sonhos que Ele mesmo sonhou pra mim”. Fico imaginando o que seria de Nínive se Deus não se arrependesse da promessa que fez pela boca de Jonas depois de sentenciá-la… ou dos israelitas que morreram no deserto e não entraram na terra prometida… e de todos os heróis do capítulo 11 de Hebreus que “viveram pela fé, e morreram sem receber o que tinha sido prometido” (v. 13). Bom, talvez o Rei Ezequias tenha cantado essa música depois que o Senhor mudou de ideia quanto à data da sua morte (II Re. 20).

Sim, eu creio que Deus é fiel, e sei que mesmo eu sendo infiel, Ele permanece assim. Porém, creio que Ele é Deus e se decidir não cumprir algo que tenha me prometido, quem exigirá dEle alguma explicação? Philip Yancey diz que explicações de Deus para nós é como tentar explicar a teoria da relatividade a alguém que não sabe o que é um átomo. Não, Deus não é mentiroso. O que promete, cumpre. Mas preciso entender que Ele cumpre por amor à Sua palavra, e que não há qualquer garantia de vida enquanto Deus não cumprir, fosse assim, daria pra saber mais ou menos a data de nosso próprio velório, não é!? (rs).

O verdadeiro adorador não precisa de “incentivos” para adorar. Não me importa se o dia da minha vitória é hoje, pois “Deus marcou na agenda e não passa de hoje, não!” – minha adoração independe disso. Eu não preciso de mais uma pílula de ânimo de “eu sei que chegará minha vez”. Também não quero fechar os olhos para os perdidos cantando: “Ainda bem que eu vou morar no céu” enquanto eles caminham a passos largos pro inferno.

Enfim, cansei de ser o queridinho de Jesus! Basta-me ser reconhecido como filho, mesmo tendo sido adotado. Que alegria ser co-herdeiro das bênçãos de Deus por Seu filho Jesus. Que privilégio poder chamá-lo de Abba! Toda glória seja Àquele que está guardando meu galardão. Pra mim, bastaria abraçá-lo.

No amor do Abba,

Roger




Sabor de Fel

Desde criança sempre tentei justificar meus posicionamentos com relação a tudo na vida. Certa vez levei uma surra do meu pai (a única que me lembro) por não ter ido à escola. A justificativa: eu não tinha uma borracha. Desde então, percebi que precisava ser mais convincente em minhas justificativas (rs). Porém, tenho procurado cada vez mais evitar as justificativas daquilo que creio e confesso – ou como diria meu pai: “ficar polemizando as coisas”. Não preciso provar que Deus é Deus – Ele não precisa da minha ajuda pra isso. Não preciso provar que Deus me abençoa por causa do Seu santo nome – e não do meu. Na verdade, cansei da tentativa inútil de explicar que Deus não é Papai Noel e que não me abençoa por minhas atitudes! Nada que eu fizer O fará me amar mais, e nada do que eu deixar de fazer o fará me amar menos.

revenge

Porém, com a graça de Deus, jamais deixarei de pregar aquilo que creio e de refutar esse evangelho cínico da “egolatria” (II Tm. 3.2). Pregações e músicas que deixam bem claro a centralidade do homem na adoração. Sutilidades do capitalismo disfarçado de fé. Satisfação pessoal, sucesso e fama são os objetivos do tal evangelho da prosperidade, que quando não está às claras vem camuflado na “busca da sua vitória”. Frases como “quem tem promessa não morre” ilustram bem essa ala triunfalista de crentes. Além disso, destoam completamente do livro de Hebreus que deixa bem claro que toda aquela Galeria da Fé “morreu sem receber o que tinha sido prometido” (Hb. 11.13). Também é comum ouvir-se que “Deus mata pra te dar vitória” daqueles que se alistaram nesse Evangelho Talibã. E mais, esse bando de crentes mimados, que ao menor sinal da negativa de Deus ameaçam colocá-Lo na parede, rasgar cartão de membro, rasgar a Bíblia… que rasguem as suas roupas em sinal de humilhação e lamento por tanta bobagem que tem sido lançada ao povo de Deus, que muitas vezes é composto de gente tão humilde, quase incapaz de perceber tais ciladas.

Se está em jogo a valorização do ser humano, ninguém melhor do que Jesus para nos ensinar o quanto nosso Deus nos ama. A morte de Cristo na cruz é suficiente para me dizer o quanto Ele valoriza o ser humano, mas nada, nem ninguém pode distorcer o evangelho e colocar “você no palco”. Aliás, como Zaqueu, quero descer o mais rápido que eu puder só para estar com Jesus, afinal, Zaqueu não conseguiu chamar Sua atenção – o Mestre simplesmente parou, olhou e disse: “Desce, Zaqueu!”. Por isso é que não consigo esquecer o texto do meu amigo Franko Júnior quando ele cita o Salmo 50.21 “…Pensavas que eu era teu igual?”
Não, meu amigo… nosso lugar não é no palco! Nosso lugar é mesmo na plateia, com todos aqueles que creem que Jesus é o Astro. A Bíblia diz que “dEle, por Ele e para Ele são todas as coisas. A Ele seja a glória para sempre! Amém” (Rm. 11.36). Aliás, imaginar alguém no palco dizendo: “Aí, tá vendo, seus ‘troxas’, quando eu estava na prova ninguém quis me ajudar, né? Agora vocês vão ter que aplaudir a minha vitória!” – não me parece algo que glorifique ao Senhor. Penso que quando o Senhor Jesus me abençoa, o propósito principal de Sua ação é trazer glória ao Seu nome – não ao meu.

“Adorai o Rei do Universo! Terra e Céus cantai o Seu louvor” diz-nos o hino 124 da Harpa Cristã. Parece-me que esse compositor entendeu a essência do louvor e adoração. Ministros de adoração, líderes de louvor, dirigentes de culto, crentes… vamos centralizar a Cristo em nossa adoração. Não permita que o homem seja colocado no palco, precisamos tirá-lo de lá. No palco, o crente que acredita que Deus está no Céu à sua disposição, pronto a atender seus desejos e caprichos, tem realmente a ilusão de que “é o cara”, que arrebenta, que vence, que destrói todos os seus inimigos (mesmo que esses sejam, na verdade, seus irmãos na fé). É por isso que ele tem “cara de vencedor” (e alguém me mostre, pelo amor, como é isso???).

Chega! Chega de “massagens do ego”. Sim, eu quero que as pessoas vejam Jesus brilhando em mim, mas, como disse Jesus, para que “assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus” (Mt. 5.16) e não para que alguém se sinta diminuido ou arrependido de não ter me ajudado quando precisei. A vingança pertence ao Senhor (Dt. 32.35). Creio que quando sou abençoado, todos ao meu redor também são alcançados. Não quero ser a atração da festa. Não quero estar no palco, pois creio que Deus “escolheu o que para o mundo é insignificante… a fim de que ninguém se vanglorie perante Ele” (I Co. 1.28,29).

Sim, tenho que admitir: minha vitória tem sabor. Tem sabor amargo. Tem sabor de fel. Minha vitória tem sabor de sangue! Sangue carmesim derramado na cruz pra me dar vitória sobre o pecado. Sangue que purificou-me de minhas iniquidades e trouxe-me das “trevas para a Sua maravilhosa luz” (I Pe. 2.9), onde posso ver todas as armadilhas do diabo, que quer fazer-me acreditar que mereço estar no palco.

Jesus, a Ti a honra, a glória e o louvor para todo sempre. Amém.

No amor do Pai,

Roger




Tão certo como o ar que respiro

Quando era adolescente, lembro-me da ansiedade na espera de mais uma “Santa” Ceia. Era um culto onde a “presença” de Deus era impactante. Os hinos da Harpa Cristã já eram arrebatadores. As profecias sempre me traziam temor. O medo de tocar o pão indignamente chegava a ser assustador. O tempo passou e a presença de Deus parece-nos menos frequente nos cultos. Porém, não sei explicar exatamente como, nem quando começou, mas tenho vivido uma experiência singular. Desde que ministrei a primeira aula na Escola de Adoração tenho dito que a presença de Deus não está restrita ao momento de louvor e adoração numa igreja. Porém, confesso que sempre foi mais fácil percebê-la nesses momentos. A Bíblia relata um dos casos mais trágicos (se não, hilários) de cegueira espiritual no livro de Números (22.21-35).

air-024

Balaão viajava com sua jumentinha companheira de todas as viagens. A certa altura do caminho o Anjo do Senhor se coloca à frente da jumenta, que desvia-se prontamente. Balaão, sem a menor noção do que se passa, bate com ira na jumenta. A cena se repete por três vezes, até que dá-se o seguinte diálogo entre Balaão e a jumenta:

“Aí, ‘mermão’…” – resmunga a jumenta em alto e bom som – “Dá pra me explicar porquê sentou a vara em mim três vezes? Que que eu te fiz?”
“Ué?” – responde o cegueta do Balaão – “Você tá me fazendo de besta!”
“Ué!? Ué, digo eu! Balaão, tâmo junto há quanto tempo? Já te deixei na mão alguma vez?”
“Nunca!” – respondeu o Balaão, que só então pode ver o Anjo do Senhor e prostrar-se.

A presença de Deus é fundamental em nossa existência, não por nos dar (nem que por alguns instantes) um gostinho do sobrenatural, mas principalmente por nos trazer a paz, doce paz nesse mundo de caos. Aliás, quando percebo a presença de Deus ao meu redor, o caos vira ordem. O medo do amanhã desaparece e meu coração se enche de esperança. O chão se torna firme como uma rocha. Moisés entendeu que anjo algum poderia substituir a presença de Deus (pobres crentes anjólatras…). Davi clamou por misericórdia e desprezou suas posses, seus cavalos, seu poderio… pediu apenas que Deus não retirasse a Sua presença.

Por tudo isso, entendo que o maior desafio para o homem de hoje é perceber a presença de Deus em lugares improváveis. Digo “desafio” pois a maioria dos colegas pregadores insiste em me dizer o seguinte:

1. A presença de Deus depende de LUGAR (?)

“Irmãos, estou sentindo algo diferente AQUI nesse púlpito!”

“Jerusalém ou Gerizim?”, perguntou a samaritana. A ideia de que há um lugar mais santificado em detrimento de outros é antiga. Talvez o púlpito mais elevado não seja apenas para que todos possam ver os ministros, mas para que os vejamos de baixo para cima.

Acostumamo-nos a cantar “Quando aqui cheguei o meu Senhor já estava” por conta dessa ideia de lugar santo. Pedimos para Jesus: “Óh, vem… e toma o Teu lugar” talvez porque se tenha a sensação de que a presença de Deus é algo distante. Que chega. Que aparece. Que se invoca.

2. A presença de Deus depende da minha VONTADE (?)

“Vou contar até três e você vai sentir algo diferente aí…”. “Despede-nos na Tua paz, Senhor”.“Irmãos, Jesus acabou de entrar por aquela porta!” – Além de chegar atrasado, ainda nos faz de idiotas por todo esse tempo que estamos cantando (rs).

Recentemente, Dany e eu aconselhamos uma amiga que, em lágrimas, dizia o quanto era difícil “levar a igreja à adoração”. Que essa responsabilidade era muito pesada pra ela.

E é mesmo! A ideia insana de que nós levamos a igreja à adoração deve partir do pressuposto que temos essa capacidade. O que a princípio parece apenas um erro coloquial é na verdade um péssimo sintoma da superficialidade. Acredita-se que tal pregador ou pastor “faz a igreja pegar fogo”. Fulano revela mais que a Kodak (rs).

3. A presença de Deus depende da minha SANTIDADE (?)

“Ouvi dizer que esse pastor passa dias em jejum antes de ministrar. Por isso que quando Ele prega Deus se faz presente.”

O Alan me disse esses dias que “só quem não entende a graça é que a usa como desculpa para pecar”. Posso acrescentar que aqueles que “não pecam” também não entenderam. Acreditar que a presença de Deus “chegou” porque busquei-o a madrugada inteira é pura mediocridade. O filho pródigo já nos deu o recado: não é pelo que eu fiz, nem pelo que deixei de fazer, Ele me ama porque sua essência é amor.

4. A presença de Deus depende de meus TALENTOS (?)

“Senhor, mas em Teu nome expulsei demônios, cantei no coral, toquei na orquestra, preguei no congresso… Como Você pode não lembrar de mim?”

Alguns firmam-se tão fortemente em seus dons e talentos que não temem mais o pecado. “Eu não tenho medo de capeta nenhum…”. Dessa forma, tornam-se vulneráveis a qualquer tipo de lascívia ou à sedução do poder, prestígio, status. Precisamos entender que os talentos são ferramentas nos dadas como verdadeiros presentes, a fim de que estes edifiquem a igreja. Passaporte pro Céu é sangue carmesim!

Não! Essas bobagens não mais me seduzem. Não fico mais ansioso por “sentir” a presença de Deus no culto, nem mesmo na igreja. Não me esforço mais para “sentir” o que meu irmão ao lado está sentindo. Também não jejuo para que a igreja “sinta” minha santidade fluir pelos poros durante minha pregação. E nem quero que me dêem tapinhas nas costas pela apresentação ungida. Chega! Decidi crer, sentindo ou não. Deus está aqui nesse exato momento. Me inspirando, me ouvindo, me dizendo, me olhando. Agora riu comigo. De emoção, verti uma lágrima… Parece que Ele riu de novo. Pelo menos por agora não me importa se Ele vai preparar um novo emprego, um novo cargo, uma nova história… Quando simplesmente entendo que Ele está, tudo fica mais fácil. Não é uma questão de esforço, é fé. Pura e simples. E se preciso de apenas um grãozinho de mostarda, tenho plena convicção de que o tenho. Não quero anjo, não quero chave, não quero folhinha pegando fogo… quero paz! Aquela que excede todo o entendimento e me traz, como uma brisa suave, a convicção de que Ele está, independente de mim.

Em Cristo Jesus,

Roger