1

Amar é a maré

Não falo (mais) sobre o amor. Afinal, não me sinto à vontade para falar de coisas que não entendo. Aliás, se há algo certo sobre o amor é exatamente a incerteza, e quem ama, inevitavelmente tem que lidar com isso. O amor tira de você todo o controle da vida, do ir e vir, do raciocinar, do querer…

Não falo (mais) sobre o amor. Afinal, quando começo um desenho, eu sei como vou terminá-lo, por isso, uso caneta, não lápis, não borracha, não cinza, não pastéis… preto no branco, com tinta, com força, com certeza, com precisão porque preciso. Mas quem disse que ele aceita? Às vezes, ele é capaz de apagar a tinta mais densa, o risco mais profundo, o rabisco mais significativo.

Não falo (mais) sobre o amor. Afinal, eu volto do estacionamento todas as vezes só pra conferir se realmente tranquei a porta. É chato e desconcertante ter que pegar o elevador de novo só pra ter certeza de algo que tenho certeza. Se tenho? É… se tivesse mesmo não voltava. Mas preciso, odeio essa sensação de não-fechado, meio-terminado, mal-começado, pouco-amado.

Não falo (mais) sobre o amor. Afinal, tem que se ter certeza… e quem tem certeza me dá medo. Essa segurança do “eu sei” não me cai bem. O “eu acho” é tão mais fácil, tão mais flexível, tão mais simples. A droga é que o amor é uma droga mesmo, porque ele se ajeita em todo o canto. Até no “eu acho” ele dá um jeito de se ajeitar.

Não falo (mais) sobre o amor. Afinal, quem se atreveria a falar do amor depois que disseram que por ser exato, ele não cabe em si? Para um cara com obsessão por simetria, tem que caber, ué! Mas para meu desespero, não cabe, transborda, se expande, se esfrega, invade e fim.

Definitivamente, não falo (mais) sobre o amor. Deixa ele falar de mim, por mim e pra mim, porque ele sim, sabe das coisas. Quando quer, diz. Quando vem, fica. E mesmo quando vai, deixa… e não volta pra cobrar porque…

Ele tem de sobra.