Adoração de Gérson
Era 1976 quando o jogador da Seleção Brasileira, Gérson, protagonizou o comercial dos cigarros Vila Rica e cravou uma das expressões mais conhecidas e, infelizmente, mais praticadas no Brasil: “Gosto de levar vantagem em tudo, certo? Leve vantagem você também!”. A frase deu origem à “Lei de Gérson” que se traduz em tudo aquilo que se faz na busca do benefício próprio, sem se importar com questões éticas ou morais. É triste se constatar que o evangelho no Brasil, mesmo importando tantos modismos e heresias gringas, também faça uso das mazelas nacionais. Percebo isso não apenas quando o assunto é ofertar, e a máxima, chavão tão consagrado em nosso meio, volta à tona: “Aquilo que você ofertar, Deus lhe restituirá em dobro”, ao que se segue com o grupo de louvor entoando vorazmente: “Restitui! Eu quero de volta o que é meu…”
Não! Já não basta-nos o simples prazer e privilégio de ir à Casa do Senhor adorá-lO pela Sua misericórdia e bondade. É preciso algo mais… um motivo “maior”. Na busca ou na invenção de tal motivo, ouve-se de tudo:
“Venha para a Casa do Senhor, pois Ele tem uma bênção para você!”
“Vamos trabalhar para Jesus, irmãos, pois nossa obra tem uma recompensa!”
“E para você que é parceiro fiel de nosso ministério, vamos fazer uma oração forte…”
Perceba que na maioria dos exemplos acima há certa verdade, mas que pode ser sutilmente adulterada sob a pretensão de fé. Como diria meu professor Franko Júnior: “Um capitalismo disfarçado de fé”. Porém, a sutileza vem à tona e se desfaz quando vemos uma igreja que precisa justificar toda a sua adoração. Espera-se ansiosamente até que o pregador fale algo “positivo” para que se dê um brado de vitória. Os testemunhos de prosperidade vêm para atestar o bom investimento no Reino. Há ainda a garantia do retorno de todo o seu empenho quando canta-se: “Eu não morrerei enquanto o Senhor não cumprir em mim todos os sonhos que Ele mesmo sonhou pra mim”. Fico imaginando o que seria de Nínive se Deus não se arrependesse da promessa que fez pela boca de Jonas depois de sentenciá-la… ou dos israelitas que morreram no deserto e não entraram na terra prometida… e de todos os heróis do capítulo 11 de Hebreus que “viveram pela fé, e morreram sem receber o que tinha sido prometido” (v. 13). Bom, talvez o Rei Ezequias tenha cantado essa música depois que o Senhor mudou de ideia quanto à data da sua morte (II Re. 20).
Sim, eu creio que Deus é fiel, e sei que mesmo eu sendo infiel, Ele permanece assim. Porém, creio que Ele é Deus e se decidir não cumprir algo que tenha me prometido, quem exigirá dEle alguma explicação? Philip Yancey diz que explicações de Deus para nós é como tentar explicar a teoria da relatividade a alguém que não sabe o que é um átomo. Não, Deus não é mentiroso. O que promete, cumpre. Mas preciso entender que Ele cumpre por amor à Sua palavra, e que não há qualquer garantia de vida enquanto Deus não cumprir, fosse assim, daria pra saber mais ou menos a data de nosso próprio velório, não é!? (rs).
O verdadeiro adorador não precisa de “incentivos” para adorar. Não me importa se o dia da minha vitória é hoje, pois “Deus marcou na agenda e não passa de hoje, não!” – minha adoração independe disso. Eu não preciso de mais uma pílula de ânimo de “eu sei que chegará minha vez”. Também não quero fechar os olhos para os perdidos cantando: “Ainda bem que eu vou morar no céu” enquanto eles caminham a passos largos pro inferno.
Enfim, cansei de ser o queridinho de Jesus! Basta-me ser reconhecido como filho, mesmo tendo sido adotado. Que alegria ser co-herdeiro das bênçãos de Deus por Seu filho Jesus. Que privilégio poder chamá-lo de Abba! Toda glória seja Àquele que está guardando meu galardão. Pra mim, bastaria abraçá-lo.
No amor do Abba,
Roger