A culpa é minha!
Fui apresentado, ainda criança e primeiramente pela TV, a este que é um dos maiores clássicos da literatura francesa. Evidente que na época não percebi os ensinamentos sobre responsabilidade, amor, vaidade e ilusão que permeiam “O Pequeno Príncipe”, mas uma cena em especial ficou marcada em minha memória. Enquanto o piloto tenta desenhar o asteroide B-612, o pequeno príncipe rejeita seus primeiros desenhos com um irritante: “Menor!”
Quem tem filhos sabe o quão específicos e detalhistas eles são na hora de fazermos seus desenhos. E o mais incrível desta experiência é a capacidade que eles têm de enxergar além. Lembre-se, na obra de Saint-Exupéry, o garoto foi o único que conseguiu entender que o desenho do piloto era um elefante numa jiboia. Minha filha de 4 anos fez o contorno de um coração com 2 cores: “Essa parte é minha e essa é sua, papai!”
Talvez os desencantos da vida tenham tirado um pouco dessa percepção de nós adultos e quando olhamos para a demora de nossas realizações, nos conformamos com o tão batido clichê: “Deus está demorando para te dar porque está caprichando no presente”. Parece-me que o Eterno está nos mostrando o desenho da jiboia engolindo um elefante e tudo o que vemos é um chapéu. Perdemos a inocência e ganhamos a arrogância de acreditar que meras folhas resolveriam o problema.
Não, não é nosso presente que não está pronto. Somos nós!
Como qualquer ser humano, já tive muitas decepções na vida. Mas sempre achava, ao superar cada uma delas, que eu finalmente estava pronto. Olhava para o tamanho da provação e dizia: “Ah, agora sim! Depois dessa, Deus finalmente arrancou de mim todo orgulho e prepotência!” Quão decepcionante era perceber, pouco tempo depois, que aquele mau comportamento continuava lá.
Tal como a rosa do principezinho, eu desafiava o Senhor com minha chantagem emocional: “Se você me amasse realmente não me deixaria sentir frio”
Eu sei que Deus tem o tempo determinado para todas as coisas, mas sou tentado a crer que tenho realmente o poder de retardar minha bênção enquanto me agarro à ilusão de uma redoma que me protege de todos os males. Como bem disse a rosa ao pequeno príncipe: “Eu não gosto daquelas lagartas, mas é preciso que eu suporte-as se quiser ver borboletas”
Quem sabe, dessa vez, nós não aprendemos a lição, não é?
No amor do Pai,
Roger